quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A saudade, o sufoco e o sonho

A sensação de engasgo é uma das piores que já experimentei.

Mãos tremem, coração dispara, corpo sua e até os olhos lacrimejam.

É como se o organismo se preparasse para uma guerra por sobrevivência e lutasse com todas as armas possíveis para que o ar entre pelas vias respiratórias e dê continuidade ao fato de se estar vivo, com o coração batendo, cérebro claro e operante.

Depois do ataque - e supondo que a sobrevivência se sucedeu -, vem a ressaca da batalha. Respira-se fundo e mais uma vez, para garantir que está tudo ok nos campos dos órgãos. Tateia-se em busca de água para estabilizar e respiração cansada. Olhos ardem, cabeça lateja e uma sensação de intensa fadiga física se apodera.

Para complementar, os momentos de aflição, apesar de temporários, podem causar uma fobia eterna ou bem duradoura de executar o ato causador do engasgo.

É...

Com a saudade é mais ou menos assim. Pelo menos quando é uma perda recente e, ainda mais e especialmente, se se tratar da primeira pessoa do singular.

Sufoca, esgana e quase mata.

A falta é tanta que as mãos tremem, o coração dispara, o corpo sua e até os olhos lacrimejam.

A ausência brusca causa o susto. O susto me desespera. O ar me falta e o juízo - com a cabeça cheia de sangue - também parece que se esvai.

Agora, o pior de tudo isso, é quando estas conseqüências perduram e causam um efeito colateral permanente... nos quais os mesmos sintomas que eu senti há tempos atrás, voltam e voltam com uma força gladiadora.

No coliseu dos meus sentimentos, o leão é a personificação da saudade e o gladiador é a minha pobre sanidade tentando sobreviver ao caos e ao que lhe parece os últimos minutos de sua vida. (Lavatory's philosophy)

O problema é que o leão é tão formidável que ele acaba tomando excursões pela savana e vira e mexe ele está de volta em mim... na minha cama... no meu sono.

Quando as vontades e os desejos são muito fortes ou estão bem escondidos a ponto de que eu não coloque para fora, meu subconsciente faz o trabalho de externizar tudo, eu queira ou não.

Acordei de um sonho sufocante, no qual o leão mostrou as garrinhas novamente, e a saudade cravou fundo as unhas no meu peito.

Ergui-me arfante, zonza, desnorteada, triste, abalada.

A vontade de superação é grande. Mas a saudade é um gigante. (Ou seria leão?)

Como se a vida não achasse o suficiente me pregar peças e me colocar neste bendito coliseu de tempos em tempos, a saudade ainda inventa uma situação, com novas circunstâncias, nas quais eu nunca vivi, e coloca o personagem principal causador da saudade no foco dos acontecimentos. Escreve um bom roteiro com estes elementos e ainda produz um filme independente que me é exibido em sonho, vívido como em uma tela de cinema.

Acordo daquele jeito, engasgada por lágrimas e por acontecimentos que nem sequer existiram, desfrutando das "alegrias" de ser humana.

3 comentários:

  1. "A saudade é um parto; é arrumar o quarto do filho que já morreu." Chico, é claro.
    Definir saudade é provavelmente mais espinhoso que definir amor e eu sinceramente acredito que nunca se chegaráa algo efetivamente preciso. No mais, enquanto isso, contentemo-nos com exercícios interessantes como esse seu - que se não definidor ao menos reflexivo.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Tenha coragem de sentir e se permita sentir...

    Era uma vez…

    Como nas histórias de Troncoso



    Era uma vez ...

    Uma moça que não assumiu...



    Não assumiu a sua vida

    Não assumiu a renovação dos seus valores

    Não assumiu a explosão do seu amor

    Não assumiu os seus anseios

    Não assumiu os carinhos que o seu corpo clamava

    Não assumiu o apelo de amor do bem amado

    Não assumiu o corpo inteiro de bem querer

    Não assumiu seu próprio coração.



    Deixou quedar o sonho mutilado

    E, no final, mas não como no conto de fada,

    Morreu em vida,

    Sem ter nascido.

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