segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

I do regret

Eu me arrependo do que faço quase que diariamente.

Será que o segredo para ser inteiramente feliz é quando isso não mais acontecer?

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Is this the end?

Viver dói. E cada vez mais.

Eu sinto os olhares reprovadores, inquisidores, questionadores, duvidosos. Sempre, sempre.

Sempre que eu digo algo em que eu espero a resposta positiva, todos os se voltam contra mim, concordando oralmente, incrédulos através do olhar.

Ninguém concorda comigo; sempre.

Não vejo mais esperanças para nada nem ninguém. Enxergo pessoas que lutam diariamente contra esteriótipos, contra doenças, contra a negatividade, contra a realidade.

O problema é que não dá mais.

A energia tem que surgir de algum lugar, milagrosamente, de repente, como um vulcão em erupção de forma repentina e de supetão.

Uma energia que nos preencha e abra nossos olhos para o absurdo que é viver hoje em dia.

Malditos ambientes cibernéticos onde as mensagens que eram para ser positivas são uma pressão psicológica constante: melhore! melhore! melhore! Seja melhor! Seja O melhor! Queira! Agarre! Lute! Emagreça! Viva!

Chega!!!

Não quero fazer mais nada. A inércia implora para tomar conta de mim.

Quando que o natural virou obrigatório?
Quando os conselhos viraram questão de status?

Sinto falta, imensamente, dos antigos livros de auto-ajuda. Pelo menos não havia repercussão. Não havia comentários muito menos discussões sobre o conteúdo. A única a dar opinião era minha própria consciência. Se aquilo era bom ou não, positivo ou não, aproveitável ou não, cabia a MIM e somente a MIM decidir sobre isso.

Tenho que conviver com o vírus das manifestações alheias sobre tudo que acontece no mundo.
Até que ponto tudo isso é positivo?

Mas que droga!

Não vejo mais vantagens em observar a opinião do outro sobre qualquer que seja o tópico. Só me confunde ainda mais nas questões mais simples. Meus pensamentos ficam confusos e são impregnados de 'disse-me-disse' absurdos.

Parece que chegamos no estopim da liberdade de expressão.

Meu direito não começa nem termina mais.
Todo mundo mete o bedelho.

E eu, que também estou no meio?
Argh, que nojo.

O resultado de tudo isso está aqui: insatisfeita, insegura, duvidosa, inquieta, angustiada.
Assim como eu sei que muitos também estão, cada vez mais.

Não agradeço mais pelo que vem acontecendo. Uma pilha de excremento transborda pelo buraco que foi aberto recentemente nos ambientes - virtuais ou não.

Não dá para ter mais esperança.
Sinceramente: você tem?

A dor que vem na garganta ao prender torrentes de choro intermináveis aperta todo dia a cada olhar me lançam. Dos mais próximos. Dos mais chegados.

Talvez eu seja obrigada a morar neste ambiente em que minha rotina é um teste. É um teste o tempo inteiro. Não importa se eu tenho um dia corrido e produtivo ou quieto e modorrento. No final dele, foi um teste.

Ninguém se importa verdadeiramente com ninguém, mesmo nos menores lugares do mundo.

Eu não sei nem a quem maldizer para terminar este monólogo. Só sei que espero que seja o suficiente para calar o grito que eu não vou dar hoje.

domingo, 18 de novembro de 2012

O Segredo

Chega uma hora que cansa.

Que tudo que almeja já não faz mais sentido e nem tem mais graça.

Quem já esteve lá, deve saber como é...

Os sonhos não são mais os mesmos e não proporcionam a mesma felicidade interior que vem daquela esperança de que um dia tudo pode se tornar realidade.

Sonhos desaparecem e você fica.

Mas é justamente quando você para para sonhar é que percebe o quão vazio era cada desejo. Cada sonho.
Nada preenche.

São apenas vontades. Vontades de ser alguma coisa; de ter algo; de possuir alguém ou algum objetivo.

São pedaços d'O Segredo' empilhados no fundo do subconsciente, esperando para serem libertados e colocados em prática.

É cansativo.
Acho que no final, tudo se resume a um grande e exaustivo exercício diário que nos deixa enfadados a cada noite mal dormida - o que ocorre com uma frequência enorme se suas expectativas são muitas.

Acordar e ir fazendo cada atividade rotineira na esperança de que elas valham alguma coisa no fim da estrada.
Fazer o que nem sempre dá vontade de fazer - e, às vezes, é a ojeriza de fazer -, simplesmente porque estatísticas provam que aquilo vai dar resultado.

E quando não dá?

E quando depois de tanto nadar, a terra firme não aparece e você fica boiando à deriva?

Já parou para pensar nisso?
Já parou para pensar que tanto esforço que você pode estar fazendo agora pode não dar em absolutamente nada?

Os vencedores talvez desconheçam essa indagação. Os humanos sabem bem do que estou falando.

Ou pior: e quando você consegue e, no fim, alcançado o objetivo, de repente aquilo não é mais o suficiente; ou percebe-se que era algo tão vazio que nem valia as horas de esforço e dedicação?

Eu tenho medo de tudo isso.
Não sei quem me pôs esse receio, nem muito menos quero saber.
Talvez tenha feito um favor para mim.

Minha vida é um amontoado de vontades pelas quais eu "luto" todo dia para que se realizem. Um punhado de objetivos que eu almejo e alimento sem saber exatamente se estou fazendo por onde. Acredito, no fim das contas, em sorte e em Deus, já que prefiro o invisível do que palpáveis números numa tabela.

Viver de esperanças cansa. Até quando eu vou aguentar?

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Gêmeos

Ele a observava de cima.

O jeito que ela se movia, as ações, tudo muito sutil, tudo muito despretensioso.

Ficar imaginando o que ela sentiria se soubesse era um dos seus passatempos favoritos.

O que diria se ela descobrisse? O que pensaria? Será que iria ficar furiosa e jogar objetos cortantes em sua direção? Ou será que iria dar boas risadas e debochar de seus sentimentos? Ou nenhuma das opções anteriores?

Fosse o que fosse, ele não queria saber.

Fechou o caderno, olhou ao redor e se espreguiçou.

Coçou as costas, balançou os cabelos e recolheu seu material, colocando tudo de volta em sua mochila. Seus movimentos, assim como os daquela que observava, também eram lentos, preguiçosos, como quem não tinha pressa por um amanhã, por um novo dia, por uma nova expectativa ou possibilidade.

'Está bom assim', pensou. 'Está bom assim'.

Foi para casa. Tomou um banho, ensaboando-se enquanto pensava nela.

Claro, ela era o foco dos seus pensamentos atualmente. Raramente ele conseguia prestar atenção em qualquer detalhe da rotina sem se pegar vagando pelas diversas imagens que guardava na cabeça: "ela acordando", "ela sorrindo", "ela comendo", "ela-fazendo-qualquer-coisa-que-faça-no-seu-dia-a-dia".

Colocou a toalha ao redor da cintura enquanto seus devaneios continuavam.

- Café. - disse para si mesmo enquanto olhava para o pequeno apartamento.

Alguns metros quadrados. Muita bagunça. Desorganização era a palavra de ordem, por mais horrorosa que aquela expressão soasse. Ele soltou uma risadinha com aquele último e colocou uma velha samba-canção que não lhe atraía e muito menos atrairia alguém.

Sua existência havia ficado limitada. Poucos amigos, poucas expectativas - consequentemente poucas frustrações -, poucas roupas, poucas alegrias, poucas vontades.

Uma única, aliás.

Tê-la.

Ela virou aquele personagem, o único que pode salvar uma donzela de uma enrascada.

Sim, virei donzela, pensou enquanto colocava o café velho que preparara mais cedo. Melhor que nada. Poucas expectativas, certo?

Olhou para baixo. Seus pés mal tocavam o chão tremenda a forma como seus livros deitavam acomodados pelo piso da sala. Pisar em folhas e ouvir o farfalhar de suas reclamações já lhe era costumeiro. Como se dissessem: "Ei! Estamos aqui! Porque você não experimenta nos tirar do chão e nos dar uma olhada séria pela primeira vez na vida?"

- Não. - respondeu, porque havia imaginado àquela mesma indagação.



Ele me observa de cima ou sou eu?

Eu não me movo despretensiosamente como ele pensa. E também, ao contrário do que ele imagina, eu sou a donzela.

Não tenho muitas expectativas para meus 21 anos de idade.
Aliás, tenho muitas e é justamente por isso que acho que não tenho nenhuma.

No fim das contas, não terminar como meus pais - no seus piores defeitos humanos - é meu grande objetivo.
Para chegar lá, a estrada é árdua, até porque a cada dia que passa, me vejo com um reflexo um pouco desconfortável de que estou cada vez mais parecida com meus progenitores.

Apenas uma criança, tentando ser alguém.
E mais uma vez, eu caio no clichê. Tenho certeza absoluta, inclusive, que tem uma ou duas músicas sobre isso.

De qualquer forma, nada mais me interessa. Eu vou dando cada passo na esperança de que alguém chacoalhe o mundo de alguma forma. Nem que seja para o fim dele. E o meu.

Eu o observo de longe, sem saber ao certo quem é. Ele também. Eu até que acredito em almas gêmeas.

sábado, 29 de setembro de 2012

Mais um daqueles

Este é mais um daqueles.

Mais um daqueles textos em que eu não tenho nada pra escrever ao mesmo tempo que várias coisas me congestionam a cabeça, me deixando zonza e sem noção por onde ir, por onde começar.

Eu gosto de dar pontos.

Eu gosto de pontuar meus textos. Eu acho que um bom ponto final, especialmente o ponto final, é a 'cereja do bolo'. Dá fim a uma ideia. Encerra um pensamento. Vai, pensa. E agora, que acabou a oração, o que você acha?

Eu fiz algum efeito com ela ou ela apenas soou vazia e sem significado nenhum pra você?

Geralmente, é o que quero que sintam quando lêem minhas frases curtas, enxutas - tá, algumas vezes prolixas, mas que, de uma hora para a outra, lá vem e ponto. Acabou-se. O que achou?

Quis citar o ponto porque há algum tempo esta é uma questão que eu observo em meus monólogos no 'eunãoseifazercrônica' e, também, nos monólogos dos blogs e textos alheios.

Um texto com muitos pontos finais - na medida certa - esculacha qualquer textinho ou textão cheio de vírgulas, ponto e vírgulas, traços e travessões.

O ponto começa. O ponto termina. Ele é o cara.

Mas enfim, mais uma vez não é exatamente sobre isso que eu queria falar.

A segunda parte do texto - cheio de pontos - é aquela em que devaneio sobre meu cotidiano.

Eis que, no meu humor que me é muito comum (sentindo-me estranha, confusa, esteticamente um bagaço, sozinha e blá-clichê-blá), me vi mais uma vez impulsionada a escrever para tentar sair dessas milhões de voltas que insistem em me deixar no mesmo lugar sempre.

Eu estou mais ou menos, depois bem, depois mal, depois mais ou menos...

Cada vez mais chego a conclusão de que a existência humana é só uma variação pequena de sentimentos e sensações que, com o passar do tempo, deixam de ser novidade.




Eu acabei de deletar um ou dois parágrafos que escrevi.
É este o meu sábado.

E agora, mais do que nunca, não estou disposta a escrever qualquer coisa na qual alguém vá se identificar; vá elogiar; vá comentar, nem muito menos divulgar. Até porque se eu ficasse feliz só porque divulgam este blog, eu já estaria muito triste (se é que isso faz sentido pra quem lê).

Eu só queria, nesta noite chuvosa de sábado, onde alguns se divertem e outros estão deitados, debaixo de um edredom roxo e com o gato no colo, sentir que eu não estou só. Sentir que eu posso escrever sobre qualquer coisa, porque essa liberdade me foi dada.

Eu posso e vou continuar escrevendo neste blog sobre o que me der na telha e eu quero e vou escrever sempre que me der vontade sobre o assunto que quiser.

Más intepretações e deboche sempre vão existir. E, não, eu não gosto deles. Mas, fazer o quê? É o pequeno preço que pago por desabafar com ninguém para quem quiser ler.

E eu tenho meu gato como testemunha de que estou bem confortável onde estou agora.

Ai, como é bom ficar sozinha.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Meu sorriso é feio

Não sei se é formato ou a forma como que não parece verdadeiro.

O fato de ser desigual, problemático, ausente e constantemente doente deve ajudar a minha hesitação quando me perguntam: "porquê você não gosta dele?".

Eu admiro o dos outros; acho lindo. Lábios que se abrem harmoniosos numa dança lenta e afrodisíaca; as rachaduras se esticando e deixando a mostra todos os elementos, emparelhados, sinceros, dando o ar da graça do(a) dono(a); dado; grátis.

Um gesto singelo e que vale muito.

Vale muito porque - esta é a parte em que eu quero e fico sorumbática - é raro. O verdadeiro. É raro.

Os falsos aparecem com muita frequência. TV, revista, meio de comunicação de massa. Todos são feiras livres de sorrisos.

"Olha pra mim! Sou feliz! Vê como eu me abro, fico a mostra, deixo até o fundo da garganta vermelha aparecer?"

Na labuta diária ele também aparece com espantosa regularidade.

"Olá! Bom dia! Sou muito feliz e estou aqui para conversar diálogos de corredor e compartilhar café com qualquer um! Aberto; simples; limpo; escovado".

Eu não tenho facilidade.

Nunca tive.

Talvez seja por isso que eu o ache tão feio. Tão estranho. Tão inconveniente.

Não tenho vergonha de divulgar isso.

Nunca tive.

Quem me conhece sabe que prefiro bicos, poses, peito, perna, olhos e o escambáu para evitar abri-lo, assim, sem mais nem menos.

Também nem quero.

Acho que sorriso demais é alegria demais e alegria demais é típico de quem não sofre, quem não se rala no asfalto da vida e tem que sentir o ardor na pele, dia após dia, mesmo depois de curativos e remendos. Eu sempre preferi este tipo de gente.

Um trecho - menos que uma frase - de uma música sintetiza:

"O riso bonito de quem chorou tanto".

Ah! Esse sim... Esse sim. Molhado de lágrimas, salgado/doce, cheio de emoção, cheio de verdade.

Esse, até em mim, transmite beleza.

Fora esta exceção, o resto é regra. Meu sorriso, sim, é feio.

E graças a Deus por isso.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Ode ao filho

Quem dera fosses vivo.

Quem me dera que existisses e que eu pudera te embalar em meus braços.

Quem me dera que eu pudesse dizerte um conselho ou dois à luz da lua, enquanto ela, cheia, ilumina a janela do teu quarto e tu descansas tua cabeça no meu colo.

Eu aliso teus cabelos que te caem à testa, e te conto histórias - minhas e inventadas - nas quais lições de moral brotam como flores na primavera.

Quem me dera tu existisses, porque simbolizas um vínculo de confiança inatingível, onde nada e nem ninguém do mundo pode chegar.

Eu te contaria segredos, e tu, no auge dos teus poucos anos, me contarias aventuras e descobertas que a mim, mesmo bobas, seriam incomensuráveis.

Ouvir teu riso e consolar teu pranto me seriam júbilo e aflição ao mesmo tempo.

A cada palavra, a cada gesto, a cada dente novo, uma nova bolha de emoção que estoura em meu peito, como uma pequena bombinha de pólvora em meu coração.

'Sim', eu te diria. 'Não', eu te diria.

Ambas palavras significariam tanto, especialmente diante das minhas preocupações e anseios, e de tuas expectativas e frustrações.

Queria que tu existisses para que eu pudesse ser tua fortaleza; porque, ao que me parece, não consigo ser o mastro de mim mesma.

Não consigo achar tal ser que me segure, que me leve no colo e me faça promessas que hão de ser cumpridas.

Tudo é muito superficial: os rostos, os risos, as piadas, os choros, as esperanças, as falas.

Vazias.

Tu, não.

Tu serias de uma imensidão, mesmo que pequeno. Tu serias minha rocha mais forte, mesmo com poucos centímetros e com sabedoria ínfima.

Queria eu que tu existisses, para que, pelo menos por um curto espaço de tempo, fosses só meu e eu inteiramente tua.

Não teria medo de tatuar teu nome em minha carne, e muito menos de gritar para os quatro ventos que és minha vida para sempre.

(...)

Eu não te almejo. Porque tenho medo do que podem fazer contigo quando estiveres pronto a me dar as costas.

Mas te desejo do fundo do meu coração, para ver se consigo, por pouco tempo que seja, conhecer o que é se dar por completo e ter a esperança verdadeira de que o ser humano é mais que carne, osso e maldade.

Por fim, queria dizer que, onde quer que tu estejas - se és futuro meu ou não - que te amo mais do que tudo.

Que nenhum amor humano te alcança porque o que sinto por ti é divino. Fazes falta, mesmo não estando do meu lado.

Carne da minha carne. Sangue do meu sangue.

Meu instinto. 

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

A menina que prendia o cabelo com o próprio cabelo

No dia em que eu descobri que ser chata é a melhor opção de convivência, li este texto que um amigo meu - futuro colaborador, espero - me enviou "despretensiosamente". 

Ele não bota fé em seus dotes 'contísticos' ou 'cronísticos' - assim como boa parte dos meus amigos dos quais sinto que têm um puta talento pra isso -, o que me deixa pensando 'vai entender...'. Mas, mesmo com o ceticismo destas criaturas, estou pensando em criar um espacinho, assim como a coluna do Mulher 7X7 da Época, com os textinhos dos homens. No 7X7, são os Homens de Segunda (melhor título, quase impossível). No meu, pode ser que eu rebaixe os queridinhos ainda mais e eles se transformem nos meus Homens de Quarta. (Estou me comparando ao 7X7. O que uns comentários Anônimos não fazem, hein?).

De qualquer forma, achei um texto bem adequado para uma quarta-feira cansativa, na qual cheguei a conclusão de que ser mal humorada é melhor política de vizinhança. Mostra que um pouquinho de açúcar num dia amargo deixa um gostinho de limonada. (Oops)

Boa leitura:

A menina que prendia o cabelo com o próprio cabelo

Um ser humano de inteligência inegável, que me foge o nome no momento, certa vez disse que “o sorriso é a porta de entrada da alma”. Não há como se negar tal frase, visto que não há nada mais sedutor e intrigante do que um sorriso. Este gesto ínfimo pode ter tantos significados, mas naquela tarde só teve apenas um para mim... 

Corri desnecessariamente para pegar o ônibus, pois havia uma fila de pessoas para entrar ainda. Esperei a minha vez para subir. Era o penúltimo da fila - atrás de mim só havia ela. Percebendo tratar-se de uma figura feminina, naturalmente deixei-a passar a frente. Ela sorriu para mim, sorriu de uma forma tão arrebatadora, tão intensa, daquele jeito que nos deixa sem saber o que fazer. Foram apenas três míseros segundos de olhares trocados, mas foi um tempo suficiente para eu dedicar-lhe atenção nos trinta minutos seguintes.

No ônibus, ela se postou do meu lado. Dava umas olhadas de canto de olho, daquelas que só as mulheres sabem fazer. Passava a mão no cabelo, olhava novamente, alisava o cabelo, e dava uma olhada de novo. Ela não era a menina mais bonita, nem era a mais notável, mas tinha aquele olhar profundo e aquele sorriso que me tirou do chão. 

Uma mulher se levantou do assento que ocupava. A menina do sorriso arrebatador se sentou. Ela parecia cansada, não fisicamente, psicologicamente. Voltou a me checar com o canto do olho, precisava saber se eu estava lá. Constatando a minha presença, voltou a mexer no cabelo. Desta vez, desfez o seu penteado e começou a fazer um novo. Segurou um rabo-de-cavalo e soltou uma mecha de seu cabelo, meio castanho claro, meio castanho escuro. Girou a mecha entre os seus dedos e depois prendeu o rabo-de-cavalo com o próprio cabelo. Eu estava hipnotizado por aqueles movimentos. Seus dedos, sua nuca, seus cabelos, tudo nela parecia ter sido feito para me atrair. 

Chegava a hora de descer do ônibus. A curta viagem não era tempo suficiente para eu admirá-la ou até mesmo puxar alguma conversa. Olhei para ela em uma última e desesperada tentativa de dizer um oi ou um tchau. Mas nada, foi apenas um olhar. Ela olhou para mim quase sorrindo como se dissesse “sabia que você estava me olhando o tempo todo, tchau, foi um prazer”. Desci do ônibus. 

Ela era pretensiosamente esperta aquela menina. Tinha um ar de quero mais, mas ao mesmo tempo não sabia o que queria. Deduções a parte, não sei se algum dia a reencontrarei e talvez nem deva. Na minha cabeça, ela pode ser só minha. Com as qualidades e defeitos que eu mesmo inventarei, para mim, ela sempre será a menina que prendia o cabelo com o próprio cabelo. 


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Verdade é bicho e a limonada é gelada

Verdade está em extinção.

Eu menti sobre um fato para tentar me proteger e acabei me afundando ainda mais. 

Falei para um alguém que eu não precisava dele e olhe onde eu estou... entre a frustração e a raiva. Entre a tristeza por não tê-lo e o ressentimento porque pegou todos os limões que eu joguei e fez uma bela limonada com guarda-chuvinha no copo. 

Não que eu acredite 100% na alegria deste indivíduo em particular, especialmente quando eu sinto que está desfilando com sua limonada gelada na minha frente, como quem diz 'hum! Viu que magnífico que eu fiz? 'Tô muito bem, viu?'. 

Antes de lançar um belo 'Por favor!' de deboche, eu mesma me retiro à minha própria insignificância e reconheço que também menti e minto. 

Minto sobre como me senti, como me sinto, como reagi e como estou reagindo. 

Menti dizendo que não era importante para mim o suficiente para que eu lutasse com garras e dentes pela sua presença. Subestimei seu papel na minha vida, alegando que era superficial demais para ser algo tão gostoso de se ter. 

Acho que é chegada a hora. 

É chegada a hora de ser sincera. Porém, mais do que com você, vou ser honesta comigo mesma. Para tirar de vez esse peso dos ombros e para passar todas as etapas que são necessárias para uma genuína reabilitação. 

Foi muito bom. 

Não sei exato o motivo. Talvez por eu me sentir querida depois de um tempo ou simplesmente porque era agradável demais. Talvez 50-50. Talvez...

O que importa é que eu seja sincera comigo mesma, como faço questão de repetir, para saber que, sim, eu sinto sua falta. 

Lembra a limonada que eu falei que você fez? 

Faça bom proveito. Mas eu digo isso de coração, sem ironia. 

Nada melhor do que ser correspondido de forma verdadeira, sem mentiras, sem disfarces, sem maquiagem para cobrir nada. 

Quero dizer, espero que esteja sendo assim. 

Mas acho que no fim das contas, é uma possibilidade que você, assim como eu, também não se utilize da sinceridade 24 horas por dia, como um mecanismo de proteção. Eu entendo como é. 

Fingir que 'tá tudo bem, que vai deixar rolar, que não se importa muito com tudo que está acontecendo e que, pra você, tanto fez como tanto faz. 

Ah, quanto desengano!

Pelo menos é essa a minha opinião. Essa é a opinião de quem vê um ser humano não conseguir ficar só por muito tempo e pular de um galho para o outro com uma agilidade invejável. 

Invejável, sim. Até porque quem dera ser dessa maneira. Conseguir esquecer pessoas importantes ou que, no mínimo, mexeram comigo, como quem esquece do prato que comeu há dois ou três dias. 

Afinal, somos todos comida... Ou bebida. Não é isso? 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Primeiros encontros, mendigos bêbados e imitadores do Michael Jackson

Hoje eu vi um blog de uma bloggeira e atriz famosa.

É legal, é interessante, é engraçadinho. Tem muito colorido e atrai visualmente. Tem rosa, tem branco, é clean, e tem bonequinhos voando. (Ou seriam faquinhas?). Enfim.

O que importa é que a primeira coisa que me perguntei quando terminei de ler um post aleatório - mentira, o primeiro post - foi: tá. Ok. Legal. Mas nem é tão bom assim pra ser tão popular. Eu escrevo mais ou menos desse nível.

- É, mas você não é famosa. E atriz, e com patrocínio. E ninguém te "descobriu" ainda. E sei lá.

De qualquer maneira, não era sobre isso que eu queria falar.

Eu queria falar - mais uma vez - sobre minhas desilusões.

Estive em São Paulo semana passada e me peguei mais uma vez no mesmo sentimento do ano passado durante o trajeto de volta.

Enquanto ficava entre o sono contido e a ansiedade aparente de um vôo e outro - sim, dois vôos porque classe 'D' de companhia aérea é assim mesmo -, uma sensação de vazio preencheu o resto do copo meio cheio.

É. Vazio enchendo copo. É por esse tipo de analogia sem sentido que eu tento explicar meus sentimentos... que são sem sentido também, então estamos no mesmo barco.

Eu fiquei meio sem rumo no que pensar, no que sentir, assim que pus os pés na primeira etapa da viagem de volta: um táxi que nos levaria da rua da Consolação até Guarulhos. Como disse anteriormente, oscilei entre momentos de sono - cansaço de dias subindo e descendo as ladeiras paulistanas - e momentos de ansiedade, quase que eufóricos, em que tagarelei sem parar sobre assuntos diversos só para passar o tempo e tentar esquecer aquele vazio que se expandia, gelado, do centro às bordas do meu peito.

Parece até dramalhão, mas não é.

Analisando de longe, numa psicologia escrota - já que hoje em dia abdiquei da psicoterapeuta que ouvia minhas bobagens por questões financeiras - escrever sobre isso é uma forma de estudar as coisas um pouco mais de perto e um pouco melhor, deixando-as um pouco mais expostas.

No fundo, no fundo, não é exatamente de São Paulo/cidade que eu me senti distanciar, a cada quilômetro rodado ou pés acima. Eu me senti cada vez mais distante das possibilidades. E São Paulo, como boa megalópole que é, é cheia delas.

Eu pensei que lá, entre a multidão trabalhadora e apressada, eu já encontraria, em uma semana, uma pequena cura para minhas dúvidas geradas pela estagnação ou o crescimento de formiga que a pequena cidade que moro proporciona. Veja bem, não que eu ache o lugar onde vivo ruim. É apenas diferente do que espero pra mim. 

Por exemplo: nunca gostei de ser empurrada num redemoinho de atividades que mal conheço e aprender na marra coisas que descubro, no fim, extremamente produtivas. Nunca gostei, mas fiz e os melhores resultados vieram disso. 

A grande cidade com milhões de habitantes com certeza empurra e puxa todo mundo para todos os lados pelo que pude observar. E, ó!, como era isso que eu desejava para mim. Não só a agitação do dia a dia, a corrida contra o relógio, a pressão por bons resultados. Eu realmente desejava respirar as diferenças, ser empurrada e puxada contra minhas ideologias, ver a realidade mais de perto, encontrar e desencontrar. 

Não sei, não sei. 

Talvez eu encontrasse isso facilmente em outras cidades também, mas não tive como não me apaixonar. 

Não tive como não me apaixonar pelo garotinho de seus dez anos de idade, com cabelos longos e cacheados, vestindo uma cópia razoavelmente similar ao manto sagrado do seu ídolo, num domingo frio de 12ºC paulistanos, fazendo questão de trabalhar com seus irmãos em frente a um Shopping na Avenida Paulista. Estava estampado no rosto desse garoto que, desde cedo, ele já encarava sua labuta como diversão. Ele imita o incomparável Michael Jackson para uma multidão - muitas vezes apática -, naquele frio que já citei, repetindo inúmeras vezes as mesmas coreografias durante boa parte do dia. 

Tá, talvez o garoto realmente encare como diversão ficar imitando o inigualável MJ em um lugar público sujeito a finalizações sem aplausos. Talvez para ele, diferentemente do que é para mim, a sensação do esforço por nenhum - ou quase nenhum - retorno não seja nada demais. É mais um detalhe de rotina. 

Mas isso não interessa. Na verdade, isso é irrelevante próximo ao que eu queria falar. 

De fato, apaixonei-me por esse garoto e pelas outras milhares de pessoas ao meu redor. Brancas, pretas, amarelas, roxas, vermelhas, coloridas. Tristes, alegres, ocupadas demais, avoadas demais, perigosas demais. Bem vestidas, mal vestidas, confusas procurando um endereço que, mesmo morando lá há dois anos, ainda não sabem bem aonde fica. 

Olhos no papel, no celular (iPhone, em sua maioria), nas placas, nos letreiros de ônibus, no asfalto, no relógio, nos livros. 

Olhos em qualquer lugar mas, raramente, no outro por mais de dois segundos. 

Por mais esquisito que o outro seja. 

Não encare isso como frieza. Mas como 'desculpa, tô atrasado demais pro trabalho pra prestar atenção nisso'; ou então, 'algo de diferente tem naquela moça, mas eu tenho que chegar logo no almoço da casa da vó senão ela me mata!' e até mesmo 'que peitos deliciosos, mas ó, vou nessa senão me atraso pro meu primeiro encontro com aquela guria do cursinho'. 

Falando em primeiros encontros também presenciei um. 

Foi lindo. 

Na verdade, me segurei para não me debulhar pateticamente em lágrimas em meio ao coffee-shop lotado. 

Os passos incertos, os olhares tímidos e as gentilezas claras e embaraçosas denunciavam o primeiro contato vis-a-vis dos dois pombinhos. 

"Quer café?" 

"Quero", risos tímidos. 

"Eu vou buscar", em pé. Ele, sentado. 

"A fila tá grande", mais risos. 

"É, né?" silêncio. Sorriso. "Mas eu vou lá. Você quer o quê?"

"Não sei, vê lá o que tem. Mas volta logo". Pede, segurando a mão da moça.

Dois minutos depois... 

"Tem café expresso, mocha, latte, doce de leite...", tímida.

"Ah, eu vou lá buscar, vai, e você espera sentada aqui. A fila tá muito grande". Sorriso charmoso. 

Olhos grudados, fixos um no outro. 

"Ok." concorda. "Eu vou querer café com um muffin. Toma..." estende cédulas na mão. 

"Não, que é isso." olhos ainda fixos. Sorriso ainda mais charmoso. "Deixa que eu pago". 

Se fiquei em vias de dúvidas se esse era o primeiro encontro dos dois, naquele momento, não fiquei mais. Até porquê cavalheirismo demais hoje em dia é coisa pra primeiro encontro...

Mas polêmicas à parte, a beleza da situação, em um final de semana gelado, em um shopping muito cheio, no meio de um empurra-empurra sem fim, regado a vozes que gritavam nomes e pedidos e perguntas óbvias, sem explicação (como 'quer café?' numa coffee-shop) me deixaram perplexa e emocionada em como as situações e as pessoas eram tão transparentes naquela cidade.

O que dizer da sexta-feira, no dia em que se celebrou o rock'n'roll mudialmente e uma banda tocava em plena calçada, as vozes se propagando pelas caixas de som e se perdendo no meio de buzinas e vento? Enquanto isso, um grupo de jovens bêbados se beijavam no meio da rua ao som dos 'meninos do som perdido' e um mendigo dançava uma rumba em cima de uma caixa de lixo. 

É demais para mim.

Voltar para cá, onde todo mundo esconde sua maluquice em um bocado de preconceitos e pior!, debaixo de uma pilha de status é demais para mim.

Talvez eu acabe me deixando levar por essa maré sem graça vez ou outra porque é mais fácil de navegar a favor do que contra.

Mas eu tento. Tento diariamente. Aliás, tento não me abrindo, porque não sei me abrir sem ser sincera comigo mesma, sem ser maluca, sem ser 'misturada'. Tento me relacionando com as pessoas mais improváveis e interessantes que encontro, justamente por serem diferentes. 

De qualquer forma, meu objetivo é sair. Ir pra lá.

Mesmo que seja pra me arrepender depois.... Ótimo! Pelo menos eu teria um conto interessante para contar de como eu, mais uma na massa da grande cidade, tentei ser alguém por lá e acabei fazendo parte da história do lugar no meio das estatísticas cruéis e massacrantes.

O jeitinho eclético de São Paulo me conquistou. As pessoas me conquistaram por mais que não tenham olhado para mim (por mais de dois segundos, claro). Os prédios, os monumentos, a pressa, as escadas rolantes mais rápidas que meus próprios passos e nas quais temos que deixar o lado esquerdo sempre livre para quem estiver com pressa, assim como é no trânsito.

Demais pra mim.

Vou confessar que meu intuito inicial nem era escrever sobre São Paulo em específico ou sobre essa viagem que fiz. Até porque meu conhecimento é pouco.

Eu tinha intensão de mais uma vez, tricotar e cutucar os mesmos assuntos de sempre: 'ele não me quer e eu não sei porquê'; 'tô cansada de tudo isso'; 'não sou produtiva'; 'tenho medo'.

Mas talvez também tudo que eu esteja pensando e que foi despejado aqui seja uma forma de dizer que as possibilidades paulistanas me dão esperanças de encontrar diversas coisas. Entre elas o amor, a carreira, bons ares e eu mesma.

Já que eu 'tô perdida nessa pequena cidade de 600 mil habitantes.

domingo, 24 de junho de 2012

15 coisas irrelevantes

Eis que uma amiga me passa isso como uma espécie de corrente. De início, pensei que talvez não se encaixasse muito no perfil do blog. Mas, pensando melhor, já que uso esse blog como uma espécie de ambiente cibernético para soltar minhas baboseiras textuais frutos de desabafos não-concretizados, uma espécie de "lista" sobre mim mesma talvez ajude nas minhas pequeninas reflexões.

Ou não. Pode ser só minha vontade de me auto-afirmar, mas é isso...

15 coisas irrelevantes sobre mim mesma

1 - Eu tenho umbigo de japonês (não vou me aprofundar nisso);

2 - Eu não sei dar cambalhota;

3 - Eu nasci em Recife mas mal conheço a cidade;

4 - Eu gosto de responder questionários e listas (mais claro, impossível);

5 - Eu tenho pavor de me engasgar;

6 - Eu estou tendo uma séria dificuldade em responder este questionário devido ao fato de não conseguir extrair fatos irrelevantes sobre mim mesma. (Acho que pra mim, tudo é relevante, já que eu sou assim: previsível);

7 - Eu já usei aparelho dentário sem necessariamente precisar dele;

8 - Quero voltar a usar óculos sem necessariamente precisar deles;

9 - Eu já fui mais gorda e morro de pavor de voltar ao que era antes. O que é só uma questão de tempo... Gravidez 'tá aí pra isso;

10 - Eu penso em não ter filhos justamente por medo de engordar. É o quanto fútil e insegura eu posso ser;

11 - Eu sou uma rockeira de merda;

12 - Eu tenho alergia a bijouteria;

13 - Eu estou ouvindo Runaways no momento e estou achando uma banda com grande potencial a ser inserida no meu mp4;

14 - Eu amo meu mp4 mais que o meu celular;

15 - Eu não acredito que consegui chegar ao número 15 de coisas insignificantes sobre mim já que eu acho que tudo - inclusive os itens dessa lista - são relevantes para quem se interessa por mim.... o problema é quem.

(Créditos deste post a Ana Caroline)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Feel the blues

A vida me ensina isso todo dia e eu, estudante relapsa, deixo de lado como quem não vai ser avaliada posteriormente. Ledo engano.

'Feel the blues' quase sempre traz um melhor senso de julgamento do que 'tropical heatwave' (apesar de se tratarem de dois ritmos admiráveis). 

Sentir-me insegura na medida certa - uma boa porcentagem - faz bem e me impede de fazer aquilo que, com certeza, vou me arrepender depois. 

Sentir-me triste na medida certa - uma porcentagem considerável - faz bem e me impede de distribuir graça a quem não merece e tampouco oferecer pérolas aos porcos. 

Sentir-me pensativa e quieta na medida certa - uma porcentagem digna - faz bem e me impede de falar pelos cotovelos e deixar que insetos saibam demais sobre minhas presas e minha vulnerabilidade. 

Ao invés disso, continuo agindo pateticamente, distribuindo sorrisos grátis e papo furado a quem eu já deveria ter voltado ao cumprimento gélido. 

0.0 para mim, novamente. 

sábado, 2 de junho de 2012

Último pedido

Eu queria ser livre.

Mas não consigo.

Lembro do tempo em que acordava pela manhã preocupada com o meu esforço físico de estar fazendo o quase-impossível: erguer-me ao nascer do sol.

Encontros, desencontros, sonhos, expectativas. Nada muito sério.

Hoje, sou prisioneira.

De mim mesma, é claro, mas, além disso, dos outros.

Sou escrava no dia-a-dia, em cada respiração e o pior: a cada batimento cardíaco.

Elas me sufocam, as emoções. Entalam-me a garganta e fazem marejar os meus olhos que já estão embaçados pela visão turva de sucessivos engasgos.

Eu estou sufocada.

Lembro-me de quando as manhãs eram um recomeço; as tardes uma calmaria; as noites uma aventura.

Tudo na sua proporção, tudo encaixado, tudo quase perfeito.

Hoje, cada sentimento é um pedaço grande demais para ser engolido e que força passagem pelo caminho para meu amadurecimento obrigatório.

Preciso ir embora... preciso ir embora.

Para qualquer lugar em que não se veja os mesmos rostos. O auge: para algum lugar em que provar-me não é necessário; sobreviver é o desafio.

Quero estar tão ocupada, mente e corpo, que o cansaço me vença ao fim da noite e eu não precise destilar os acontecimentos do dia com seu-ninguém, nem muito menos saber do que os outros estão fazendo.

Quero me bastar. Quero ser o suficiente para preencher meu próprio copo, quero ser a tampa do meu próprio recipiente.

Não consigo... não consigo.

Fui criada para amar os outros, respeitar os outros, contar com os outros e oferecer tudo em retorno.

Não aguento mais.

Quero ser sozinha; e feliz.

Este é o meu último pedido.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

The Beatles

Sentada, os olhos ardem.

O gosto de chá ainda amarga um pouco a boca.

Aquelas palavras que atravessam espaço-tempo e se propagam dentro do canal auditivo, reproduzem-se na pracinha do subconsciente através do megafone, chamando a atenção de pessoas e animais que lá estão, causam nostalgia nos personagens que passeiam, despretensiosos, em frente à igrejinha. 

Palavras cantadas que movem de verdade. Transportam. Carregam-me em braços recobertos de seda, enquanto exalo o agradável odor de campo na curva do pescoço da melodia.

Embalam-me. Confortam-me. Alisam de leve os meus cabelos e sopram, gentilmente, no meu rosto.

O coração dispara com tanta sutileza. O carinho mais afável vem daquilo que não tem forma e apenas som. Ondas equalizadas que quebram aos ouvidos e penetram na alma.

Frases como força.  Força de sentimentos humanos. Fraca, deixo-me levar.

Let it be.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A ligação

Ela me ligou.

Eu, atendi:

- Alô?

- Oi.

- Quem é?

- Sou eu, *****.

- Ah, oi. Diz aí.

- 'Cê tá melhor?

- É né... aos poucos vai sarando.

- Pode crer.

(...)

- E você?

- 'Tô bem. Atarefada mas 'tá tudo bem.

- Legal.

- Enfim, te liguei porque fiquei realmente preocupada naquele dia.

- Ah, certo. Não, não, tá tranquilo.

- Você parecia tristinha. Não gosto quando 'cê fica assim.

- Nem eu. Haha.

- É.... De qualquer forma. Você sabe que qualquer coisa eu estou aqui pra você, não sabe?

- Sei. É, eu sei.

- Mesmo sendo impossível. Eu estou aqui pra você.

- Eu sei.

- Mesmo que nosso futuro seja impossível. Eu realmente estou aqui pra você.

- É. Sei.

- Mesmo que eu não exista. Eu estou aqui.


Fitei o teto. Contei alguns segundos e percebi que estava falando sozinha.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Coração

"Se tens um coração de ferro, bom proveito. 
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia."*

Ele palpitou ansioso.

Faziam pouco mais de dois anos que nada vinha acontecendo. Era um vazio, mas um vazio de limpeza. De organização.

Precisava daquele tempinho para colocar tudo em ordem, tudo no lugar certo. O último que viera fora quase que avassalador.

Não, não. Mentira. A partida doeu mais do que o próprio fim. A falta foi mais incômoda do que a própria ausência.

Mas, recuperou-se. Aos poucos. Processo lento, gradual, quase que infinito. Ele doeu, ficou doloridinho, respirou com dificuldade e depois voltou ao normal. O sangue, que é sua energia, parecia circular mais lentamente durante aquele período. Ele pulava em saltos hesitantes... isso quando não se contraía num momento de puro sofrimento, a dor lancinante fazendo com que todo seu pequeno volume se espremesse, sufocado, lacrimejando gotas rubras de pesar.

É passado. Tudo aquilo de algo serviu: deixou-o mais bem preparado, mais maduro, mais adulto.

Ele marchava. Marchava com determinação e com os dois olhinhos - inexistentes - no horizonte. Fingia-se indestrutível (muro que se constrói depois de uma situação como aquela), mas provou-se vacilante no primeiro teste verdadeiro.

Foi como quem não quis nada. Apareceu.

Ela se relacionou devagar. Cautelosa.

O corpo não controlou. Não era de se surpreender, até porque ela era teimosa.

Mas ele ficou guardadinho com cuidado - ela o amava e ele correspondia. O relacionamento dos dois ficou muito mais íntimo inclusive quando ela sofreu aquela perda. Comunicavam-se mais, ouviam um ao outro com mais atenção e sempre procuravam agir com cautela quando a rotina se esbarrava em situações exigentes.

Ele não sabe explicar como aconteceu e tinha certeza que se a perguntasse ela, apesar de ser uma protagonista na história, ficaria muda na hora de fornecer a resposta igualmente.

Era frustrante para ela, ele sabia. Algumas vezes ele sentiu uma pequena contração, um remexido esquisito, um puxão doloroso. Certas ideias o deixavam muito triste. O que acontecera com ela, tão de repente? O que foi que fizeram para aqueles sintomas aparecerem novamente?

Ah, como ele lamentou.

Claro, não foi naquela proporção do pouco mais de dois anos atrás mas, que droga, ela havia prometido! Não mais sofrimento, ainda mais tão cedo, com alguém tão superficial, com possibilidades tão limitadas! O que ela estava pensando? Que ele era feito de aço?

Era sangue, carne, músculos, fibra.

Machuco-me, gritou, em desespero. Machuco-me sempre que você não racionaliza. Sempre que você se deixa enganar. Sempre que alimenta esperanças. Sempre que me esquece, me ignora, me escanteia. Todas as vezes que pensa em si, e não em mim em primeiro lugar. Porquê? E logo com essa situação TÃO pequena?

Respirou de ódio. Inspirou trêmulo e expirou gerando batimentos quase que frenéticos e ritmados.

Você não cuidou de mim, chorou, os átrios rasos d'água (ou seria sangue?). Você não cuidou de mim.



*José Saramago

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Na Superfície


Ele sentou e escreveu:

Eu realmente não me importo com seu passado. Presente. Futuro.
Da mesma forma na qual não me importo que você se importe com os meus.

No encontro de olhares, de toques, de nós dois, o importante são os sujeitos, eu e você, juntos.

O texto é para ser superficial. Não se assuste. Tudo que temos é superficial.

Se é assim que quer, é assim que vai ser. Eu concordo.

Não se assuste.

Só peço uma coisa: seja segura na superficialidade.

Oficialize a instabilidade. Tatue sobre o peito a incerteza. Me garanta que nossa superficialidade será, de alguma forma, segura.

Prefiro assim.

Mas, mais uma vez, não se assuste. Aliás, longe de mim importar-me contigo. Dentro de sua independência, você sabe cuidar de si mesma. Não precisa de ninguém com você. Só tenha cuidado.

Ninguém precisa de você, também.

(Conto)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

The Shrink

It was her first time. She didn't even know why she was doing this. She didn't even know who this guy was. She just knew that someone had told her to go, and she went. She had never had prejudice about that. She always said 'It is a shrink, why do I have to bother? Isn't it just like talking to my old man about the weather or even talk to the taxi driver about my last disappointment?'.

But she also knew that what kept her toes curling and her nose iching wasn't that certainty of the good shrink's work. It was her fear of talking about it. Of talking about that specific thing that gave her so much pleasure. Since 15. Since 12. Since 5. Since she was born, actually. Her mother said she used to play it since 2.

Wow, that was quite an age, wasn't it?

But ok. A shrink. A completely stranger. Someone else in the mixed crowd of professionals. And she was paying for this, for God's sake! It was not like... a crime or something. It was just... a thing.

Everybody did this. What the hell was wrong if she talked and did it since she knew herself?
It turns out that 'it' was who she thought she was.

She crossed her legs - left one above the right one - e lighted a cigarrette. It was a place to be comfortable, right?

She looked at him.

He seemed a bit tired, a bit worried, a bit bored.

But he looked good, no doubt.

His legs were crossed too. But crossed in the 'masculine' way. One arm was on the armchair as the other was supported by the elbow, leaving the fingers tapping on his temper. He seemed serious. Like he was expecting her to talk.

- Do I have to talk first? - she asked, with a thick thread of voice.

He said nothing.

Maybe he was expecting her to say her complete name. Age. Address. Something.
Bullshit! She had seen this before. On movies and shit. She had to do the talking, like some freaking old lady to her husband after twenty-fucking-years of marriage.

Ok, she was paying for this. She did worse in her life.

Oh, fuck.

- I mean... Why do I have to be polite about this? - she began, the voice stronger but still calm. - Is that some tricky way to decide people's lives? Is that right ou is that wrong? And why is IT inside of this?

The man didn't move a single finger. (Except for those ones which were tapping the temper).

She breathed again. And continued.

- I like society. I like the rules. I play by them. With no rules there's no fun. No pain. No victory. - she said, and the conviction of the setence made her feel more confident.

She smoked and let the burning smokes fly all over the place.

She paused. And then continued.

- I like tradition. I like culture. I think that makes us who we are, you know? Like... I like when someone tells me what to do because easy ways are just... easy.

He lifted an eyebrow and then stared again.

- You know... these... prohibitions that they make don't hurt me. - she admitted, nodding. - Used to get me questioning, but now... I know they play their roll. I play mine.

He moved.

He uncrossed his legs and breathed.

And talked.

- And which is it? - he asked, barely moving his jaws.

Instead of looking surprised - as she was inside - she considered it for a moment. Smoke again.

- I think... - she stalled the answer because she knew the answer itself wouldn't be as dramatic as the tone of her voice. - I think mine is the lost and found girl part.

- Lost and found? - he asked again, voice low.

- Yeah. - she answered. - Sometimes I think I'm lost when I am just found. Do you know what I mean?

She was sincerely hoping he was getting it. She didn't want to speak that again. It was one of those 'one time only' things.

- Sort of. - he said, with honesty in his voice.

And got to his initial position.

She breathed again, this time heavily. It was a bit exhaustive. But it was ok.

- I think I am lost because of these things and then again I feel found because I know He loves me by who I am. I don't feel guilty and all that shit. It is just like... human stuff. Sometines, when I was young, I used to picture them... beside me. Inside me. It was fun and it was nice.

She felt the tears but didn't dropped them.

- But then.. later.. I realized I really needed them. Alive.

Her voice cracked like a broken mirror. She continued.

- I need them alive. And yes, it is more than one. I don't need just John. I need Elvis. I need Bruce. I need Carl. I need Paul. I need all of them. Separated and together, if they will. I need the girls, too. Carmen, Elisa, Julia, all of them.

One tear just slipped. She didn't wiped it.

- I need one or many. I don't know. I just need. And it's that needing of someone else to be complete that kills me! It kills me!

She started to cry now. It was no doubt of it. No masks. No pretending.

- I just.... - she started again, almost moaning. - I just wanna be complete with myself. I... I don't wanna end up alone. I...

She cried and cried. He just watched.

As her heart was living a horse race, she was blind by tears. Her cigarrette fell on the floor and she was almost numb by sorrow. She almost didn't feel a thing. Tears, sweat, breath, hair, everything was heavy. Her own body was way too much for her to carry. Her soul was restless.

Her mind was a ticking bomb clock.

- Someone said that living alone was like living a nightmare without the waking-up part. - she said, between tears. - I do believe that. I am in one.

He let her cry and said nothing for a few more moments. Her problem wasn't inside her. It was really on the outside. But she didn't know it. Wouldn't know it.

Unless she wanted to.

- Why don't you? - he asked, now with a sharp tone.

She bumped on her seat and looked straight to him.

- Why I don't what? - she said, obviously confused.

He stared back.

- Why don't you wake up?

She blanked.

- What? What do you expect me to do? Do you expect me to give up? Do you expect me to... to... not wait for it? Do you expect me to screw my life up? To just... let go?

He didn't answer.

She kept quiet for an instance. Her brain was fuzzy and she was absolutely baffled.

- I can't... I just can't.

Her voice was thin again. Like the freaking old lady on the beginning of the story.

He breathed deep and crossed his legs again. But this time, the gesture wasn't so displicent. He licked his lips and blinked twice slowly. Her heart was still in a race but her eyes were flat.

Waiting...

He cleared his throat. And said:

- Your problem can be solved. But only if or when you find a partner.

She nearly smiled with that one.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Republicando o que não é meu

Sempre houve diferença.

As drogas, o álcool, o cigarro. Aquilo já era parte do cenário. Ela convivia com isso quase que diariamente desde pequena. Desaprovação da mãe, comum para o pai. Afinal, ele sempre fora o precursor daqueles hábitos.

Acordava sempre às 7 da manhã e, junto com o café, sua primeira baforada de erva.

Para ela, o cheiro até que era agradável. Familiar. "Cheiro do meu pai", dizia. Menina pequena, frágil, magrinha para o corpo cheio de curvas que iria adquirir futuramente. Sua pele, como seu progenitor me confidenciou um dia, era branca como leite e macia como seda. Havia até sardas no seu corpo, imagine só! Sardas que desapareceram com o tempo...

Juntos com as sardas rapidamente teve que ir junto a inocência.

As brigas foram ficando cada vez mais frequentes entre o pai e a mãe. Ela, a inabalável responsabilidade em forma de pessoa, correta até os dentes, não suportava viver do jeitinho brejeiro que um dia, sabe-se lá como, lhe encantou. Ele, farto de ter que lidar com regras e costumes que não lhes eram naturais. 'Acorda, levanta, trabalha'. Era demais.

Pratos, copos, vidro, louça. Tudo pelos ares. Um pedaço, inclusive, cortou-lhe a lateral do pescoço. Um corte fino, quase imperceptível que, no entanto, virou marca registrada de uma personalidade que viria a ser forte e marcante.

Pois bem. Como as flores brotam e como as borboletas criam asas, eis que ela cresce.

Inabalável como a mãe. Irresponsável como o pai. Linda como si só.

Mas no meio do caminho, mais que uma pedra, um muro se elevou de repente.

Cresceu com a mãe. Fins de semana com o pai. Até aí tudo bem. Drogas? Deixaram de ser presentes, com exceção dos dias de descanso em que era 'obrigada' a conviver com o 'cheirinho do velho'. Aliás, ensaiou frente ao espelho a mesma cara de desprezo e a mesma torcida de nariz perante a erva na qual a mãe fazia com tanta excelência.

Vida quieta. Correta. 9,5 de Matemática ao Português. Soletrando e multiplicando conhecimento. Boa base. Base sólida.

De repente, o mundo fica acinzentado. Sem graça. Sem mais nem menos mesmo. Daquele jeito que ela nunca imaginou que um dia poderia ficar.

Foi aos 12. Ou 11, não lembro bem até porque não é minha história.

Ao banheiro, ela me confidenciou, que costumava lembrar-se da imagem das primas mais velhas que brincavam com shorts pequenos ou até mesmo nuas, sem pudor - óbvio, não? - na frente das primas mais novas. Aquela imagem, segundo ela me contou, por algum motivo estranho lhe apetecia.

- Mas apetecia, mesmo, cara. Sério. Tipo, água na boca. Era muito estranho. Eu lembro que me reprimia por isso, que não era normal.

Disse-me entre risos.

Tempos depois, até mesmo revistas "masculinas" (acrescento aspas até porque ela zombou uma vez que não existe revista mais feminina do que aquelas que possuem fotografias de mulheres nuas) lhe enchiam os olhos e lhe molhavam a intimidade.

Porém, o que hoje me conta entre risos, já a fez chorar e muito. Aliás, até hoje. Entre uma cheirada e outra, inclusive.

Mas isso é mais para o fim da história.

Contar a mãe lhe parecia um passo fácil. Até porque era sua melhor amiga. Certo, contida, mas ainda assim sua amiga. Foi confiante. Jogou os cabelos dourados que lhe caíam até a cintura e caminhou até o seu escritório. Mãe no computador, típico. Trabalhando, como sempre.
- Mãe.

A primeira palavra que, hoje, a fazem ficar com os olhos caramelados transbordando de lágrimas e emoção.
Uma resposta seca, distraída.

Respirou mais uma vez e investiu, descarregando tudo de uma vez, aguardando, ansiosa, um sorriso leve, uma resposta afável, uma indiferença sutil.

O que veio lhe aterrorizou. Por muitos anos. Um terror que até hoje mesma eu carrego.

Antes a indiferença, antes até mesmo o leve dar de ombros e o voltar ao trabalho.

Quanto ódio. Quanta dor.

Rasgo-me ao meio ao ouvir suas palavras através do celular. Dói. E dói porque eu já vi.

Sim, eu me joguei no meio dessa fogueira, entrei no olho do furacão e fui achando que escaparia ilesa, ou pelo menos igual ao que eu era antes, só um pouco diferente.

Só que a diferença é muito grande. Mudou-me por dentro, por fora, na mente, no coração.
Apaixonei-me loucamente. Por sua beleza, sim. Por seus problemas, com certeza.

Apaixonei-me por sua prestatividade quase que doentia. Por suas risadas estrambólicas e suas piadas sem graça. Por sua mania de se achar menor, quando é uma puta mulher de fibra. Por sua força ao acordar de manhã para trabalhar, desde os 16, e sustentar suas irmãs, madrasta e pai, muitas vezes com mísero salário mínimo. Por saber rir das coisas boas e chorar das coisas verdadeiramente tristes como a fome e a dispensa vazia que um dia encaramos juntas. Até mesmo por ser infantil o suficiente por achar que não sabe superar isso tudo sem ajuda das suas drogas.

O que é meu é seu e vale até mesmo na tristeza.

Lembro estar com minha cabeça apoiada em suas pernas descansadas com meus cabelos, na época longos, quase tocando as pontas no chão. Com uma mão, acariciava algumas de minhas mechas. Com a outra, fumava a herança do seu pai. Entre uma conversa e outra, saiu:

- As pessoas não sabem amar, não é? Quero dizer, não sabem mesmo sentir. Uma vez eu tava na padaria e uma senhora olhou com uma cara de desprezo para um pirralho que pedia dinheiro. Foi horrível. Eu me senti hiper mal, sabia? É uma doidera. Gente que não se respeita e tal... Mas ó: a gente é diferente. Aliás, com você é diferente.

Sem resposta.

- Como assim? Ah, velho, sei lá. Você sabe que tem que sentir e eu sei disso. Você sente, cara, e isso é o que faz a diferença para mim. Tudo que você passou, por mais que seja diferente do que eu vivi, foi muito louco para você. Teve um peso enorme. A tempestade no copo d'água para você tem importância. Isso é massa.

Ainda sem reação, ri sem graça.

- Que foi? - tragou. - Você não acha? - expirou.

Eu acho. Na época, não respondi.

Eu acho, querida. E acho mesmo. Para mim é assim e eu sei que para você também. Me meti nessa confusão porque eu sempre me importei. Porque eu sempre sonhei com esta confusão, por mais 'suicida' que isso seja. Eu sonhei minha vida inteira com este grande drama que a gente vive. Do bate boca, da distância, da paixão incontrolável, do (seu) ciúme indomável, dos tapas que já trocamos, das noites, dos dias, dos risos, das lágrimas, da loucura, da sanidade. De cada momento.

Eu quis e não me arrependo. NÃO ME ARREPENDO.

E eu sei que você também não.

Sei que antes de publicar isso, você já leu. E gostou. E disse até que chorou. Disse que se um dia eu publicasse, queria que todo mundo lesse e que fosse o primeiro capítulo de um livro que eu ia escrever porque, segundo você, eu vou ser uma autora de livros de sucesso. Eu rio com essa possibilidade ainda, principalmente quando releio meus textos e eles soam tão bobos para mim.

Mas tá, vai, vou te dar esse crédito.

Não pense o contrário. Não pense que eu lhe odeio ou algo assim. As palavras rudes, como você está careca de saber, são uma defesa imbecil para tentar te manter longe.

Mas você, bem esperta (ou quimicamente alterada demais), passa por cima disso e mantém firme a fina corda que ainda nos une, de tempos em tempos, de ligações em ligações, de noites solitárias em noites solitárias.

Antes isso que mais nada, certo?

Antes isso que mais nada.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Lavatory's Philosophy #1

O que mais me incomoda é que ainda dói.
O que mais me dói é que ainda incomoda.

O medo de que daqui há alguns anos eu continue estremecendo ao pensar nisso, também me deixa aturdida.

Eu quero mais é esquecer, mas não acontece.

Ainda não aconteceu, pelo menos...

Memórias que, hoje, já são vagas e em preto e branco ainda me fazem lacrimejar como quando assisto Gone With the Wind.

Já sei o início, o meio e o final da história, mas ainda sofro com ela.

Mas creio que seja assim.

Ou não?

É angustiante. E, por falta de outra palavra, puramente chato.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A saudade, o sufoco e o sonho

A sensação de engasgo é uma das piores que já experimentei.

Mãos tremem, coração dispara, corpo sua e até os olhos lacrimejam.

É como se o organismo se preparasse para uma guerra por sobrevivência e lutasse com todas as armas possíveis para que o ar entre pelas vias respiratórias e dê continuidade ao fato de se estar vivo, com o coração batendo, cérebro claro e operante.

Depois do ataque - e supondo que a sobrevivência se sucedeu -, vem a ressaca da batalha. Respira-se fundo e mais uma vez, para garantir que está tudo ok nos campos dos órgãos. Tateia-se em busca de água para estabilizar e respiração cansada. Olhos ardem, cabeça lateja e uma sensação de intensa fadiga física se apodera.

Para complementar, os momentos de aflição, apesar de temporários, podem causar uma fobia eterna ou bem duradoura de executar o ato causador do engasgo.

É...

Com a saudade é mais ou menos assim. Pelo menos quando é uma perda recente e, ainda mais e especialmente, se se tratar da primeira pessoa do singular.

Sufoca, esgana e quase mata.

A falta é tanta que as mãos tremem, o coração dispara, o corpo sua e até os olhos lacrimejam.

A ausência brusca causa o susto. O susto me desespera. O ar me falta e o juízo - com a cabeça cheia de sangue - também parece que se esvai.

Agora, o pior de tudo isso, é quando estas conseqüências perduram e causam um efeito colateral permanente... nos quais os mesmos sintomas que eu senti há tempos atrás, voltam e voltam com uma força gladiadora.

No coliseu dos meus sentimentos, o leão é a personificação da saudade e o gladiador é a minha pobre sanidade tentando sobreviver ao caos e ao que lhe parece os últimos minutos de sua vida. (Lavatory's philosophy)

O problema é que o leão é tão formidável que ele acaba tomando excursões pela savana e vira e mexe ele está de volta em mim... na minha cama... no meu sono.

Quando as vontades e os desejos são muito fortes ou estão bem escondidos a ponto de que eu não coloque para fora, meu subconsciente faz o trabalho de externizar tudo, eu queira ou não.

Acordei de um sonho sufocante, no qual o leão mostrou as garrinhas novamente, e a saudade cravou fundo as unhas no meu peito.

Ergui-me arfante, zonza, desnorteada, triste, abalada.

A vontade de superação é grande. Mas a saudade é um gigante. (Ou seria leão?)

Como se a vida não achasse o suficiente me pregar peças e me colocar neste bendito coliseu de tempos em tempos, a saudade ainda inventa uma situação, com novas circunstâncias, nas quais eu nunca vivi, e coloca o personagem principal causador da saudade no foco dos acontecimentos. Escreve um bom roteiro com estes elementos e ainda produz um filme independente que me é exibido em sonho, vívido como em uma tela de cinema.

Acordo daquele jeito, engasgada por lágrimas e por acontecimentos que nem sequer existiram, desfrutando das "alegrias" de ser humana.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PESO na consciência

Sabe aquelas coisas que você torce, toda vez que ouve, para que seja verdade?

Coisas assim: "Ah, mas um dia você supera!", ou então "O Brasil ainda vai voltar a ganhar a Copa".

Pois é.

Estilos diferentes de afirmações que geram uma problemática seríssima para o ser humano: a esperança.

Não tem sentimento mais bobo e pateticamente infantil que a esperança. Acho inútil e vazio. O fato de esperar por algo que ainda não aconteceu, você não tem certeza que vai se suceder, não sabe as circunstâncias em que o fato vai se desenrolar e, para completar, ainda aguarda um resultado positivo.

Não é qualquer resultado, não, ouviram? É po-si-ti-vo.

Acho que isso resume bem a esperança.

No dicionário (online), esperança se apresenta da seguinte forma:

esperança (es-pe-ran-ça): s. f. expetativa de um bem que se deseja: a esperança é grande consoladora.

(Nossa, não acharam suficiente colocar 'um bem que se deseja' e ainda completaram com 'grande consoladora'....)

Considerações sobre a explicação deste dicionário à parte, já deu para entender o que esperança significa.

Uma vez bem esclarecido este ponto, - sobre o que é esperança - , vamos caminhando ao ponto sobre o qual estou desenhando circunferências para atingi-lo:

Esperança, na minha opinião, anda de mãos dadas, grudadinha, com a danada da frustração. Frustração, por sua vez, faz o papel da namorada lésbica amarga e ciumenta da Esperança, com a seguinte definição -

frustração (frus-tra-ção) s.f. Do ato de frustrar
frustrar (frus-trar) v.t. Privar alguém daquilo que lhe é devido.
dececionar; enganar.
Baldar.

Entendeu, também, porque é a namorada amarga?

A questão é que, hoje em dia, muita gente não acha que estas duas composições andam juntas, agarradas, engalfinhadas e até fazem amor e se reproduzem gerando outros sentimentos 'bonitinhos' como: a raiva, o ódio, a decepção, o rancor, o remorso, etc.

Mas eu também não estou aqui, escrevendo em PLENO trabalho (não me dedurem, pf!), gastando meus dedos no teclado mais confortável do universo, me debruçando por sobre um móvel alto e esticando minha coluna numa cadeira pequena demais, desproporcional para com o móvel no qual o computador está depositado, lendo letras miúdas em um monitor de... o quê... 12 polegadas? para ficar escrevendo sobre essas coisas infelizes e reais demais através de metáforas.

O negócio é o seguinte:

Eu estou com ódio de mim mesma.

Não, não, o negócio verdadeiro é o seguinte:

Eu estou com ódio,raiva, rancor, decepção e remorso de mim mesma ao mesmo tempo.

Sim, todos os filhinhos da Sra. Esperança com a Sra. Frustração juntos dentro de uma só pessoa.

Como se eu fosse a barriga de aluguel destas duas mães inférteis.

Barriga...

Aliás, talvez seja esse o problema. Minha barriga continua grande e mole por causa das severas e constantes gestações dos filhos da Esperança e Frustração que teimam em me utilizar como gestora da sua prole, fruto das fornicação indecente das duas.

É, deve ser isso.

Até porque é o que costumam dizer: quem nos engorda não é a comida, e sim, o peso na consciência.

Deve ser isso mesmo... o que está me engordando não é as gorduras trans de algum ovo frito ou as calorias de um bolo de milho... é o óvulo fecundado da Frustração (sempre a encarei como a mais ativa da relação, não sei o porquê. Deve ser porque termina com 'ão') sendo depositado no meu ventre.

O que me engorda não são os carboidratos de um pão ou a quantidade de sódio de uma bolacha... é a raiva e o rancor evoluindo de célula para feto bem dentro do meu ser.

Talvez todo este texto seja desnecessário e, ao lê-lo depois, eu me sinta uma imbecil (cutucando, relembrando, reabrindo a mesma velha ferida). Mas o fato é que eu paro para escrever estas coisas que me incomodam e tá aí uma coisa que me incomoda...

Não, não é meu peso.

É a falsa esperança que depositam na gente quando falam expressões como 'peso na consciência pesam mais que comida', gerando uma frustração genuína.

Não! Não, não e não! Eu sou gorda porque eu como! E gosto de comer!

E é daí que nasce minha culpa, minha raiva, meu rancor! Da minha comida! Não da minha consciência. Os ingredientes de um biscoito são: amido, trigo, açúcar, CULPA e sódio. Os ingredientes de uma boa lasanha são: massa, molho, ÓDIO e carne moída. Já os de uma excelente feijoada são: feijão preto, carne de porco, ARREPENDIMENTO e cominho.

Ora bolas, que droga!

É como já diria meu amigo Roberto Carlos (ou Robbie Carl para os íntimos gringos como eu): "Então o que fazer, já não quero mais saber, se como alguma coisa que não devo comer, se tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda."

Deixem-me com minha dose de amargor com pitadas de açúcar sozinha...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Guerra moderninha

Não sei ao certo quem começou com isso. Nem sei se alguém sabe. O fato é que há algumas décadas atrás, na época dos 'bacanas', do funk, do pop estourado e da ascenção do rock brasileiro mais agressivo, popularizou-se uma expressão que caracterizava os 'não' usuários de drogas.

O surgimento da expressão taxativa 'careta' (arrepios) - tal qual o pejorativo 'maconheiro' - iniciou uma guerra fria - e invisível - entre usuários e não usuários da Maria Joana.

Ideologias à parte, eu acabei fazendo parte do grupo dos 'não', simplesmente por não querer ou não ter interesse. Acabei caindo de pára-quedas no meio da troca de tiros e, em pleno século XXI e na década da modernidade, ainda escuto ambas as expressões com uma freqüência absurda e o pior!, da boca de pessoas tão novas que não eram nem vivas quando estes rótulos inúteis nasceram.

Não que possuir apelidos ou ser taxada de alguma coisa me incomode. Até pelo contrário. Acho que alguns rótulos que meus bullyies me deram, ao longo do meu pequeno percurso de 20 anos nessa terrinha de meu Deus, me incentivaram a passar por cima das falácias dos outros e me fizeram aprender a ser mais eu mesma.

No entanto, esta, em particular, me dói os ouvidos e me faz coçar os olhos toda vez que ouço ou leio. Mais uma vez: não que me ofenda. Simplesmente acho desnecessário.

Tal como uma pochete, 'careta' para mim é uma coisa que, por mais simbolize ou signifique uma espécie (homus caretus), é tão intragável quanto giló. E o mesmo se aplica à expressão pejorativa para caracterizar os jogadores do time 'adversário'.

O porquê, na minha cabeça, é simples e eu vou explicar:

Todo adjetivo tem um oposto, certo?

Bom - ruim, bonito - feio, caro - barato, legal - chato, etc.

Quando se pensa em (ergh) 'careta'... qual o antônimo?

Descolado? (Noossss!)

Pra-frentex? (Putz)

Eu não sei porque mas eu ainda não consigo conceber a ideia do 'careta'. Acontece que o 'careta' em si é 'careta' demaaaaais. (Piti de moça)

Eu sou, sim, fashionista de palavras. O que não soa bem, está fora de moda e não agrada meus ouvidos, eu costumo me arrepiar até o último fiozinho de cabelo da nuca.

Além disso, a partir desta espécie de troca de 'ofensas', cria-se uma esquisitice meio 'ariana', de quem que faz, é evoluído, quem não, é atrasado, retraído. E vice-versa.

Posso falar o mesmo de quem gosta de pronunciar 'maconheiro' com uma ojeriza digna de quem é hitlerista e está falando de um grupo de "ratos judeus".

Enfim, colocando o mundo da moda e das características meio históricas das palavras de lado, eu acho que esse fenômeno (do uso do 'careta' e 'maconheiro') acaba provando um fato que sempre me intrigou: as pessoas que os utilizam, às vezes, podem estar meio que presas no passado. Daquelas cores berrantes e que usar as duas expressões era tão legal quanto usar shortinhos laranja-neón de tactel curtos. Em que desfrutar de algum tipo de substância ilícita ou não desfrutá-la e bater no peito por isso era quase tão significativo quanto se colocar na frente de um tanque de guerra.

Eu acho que o tempo já passou o suficiente, o mercado das informações já cresceu e a gente já é um povo bem mais moderninho para estar se utilizando de expressões taxativas antiquadas e insossas, que criam barreiras entre as pessoas.

De barreira, já não basta o preconceito, a ignorância, a desigualdade social? A gente precisa ficar se encaixando em categorias para criar uma maneira de seleção (nada natural) entre nós? Se dividindo e sub-dividindo e, pior, dando vazão para que as ideias pré-concebidas negativamente existam?

Como já dizia Martin Luther King: 'I had a dream...'

I had a dream no qual, sinceramente, ser ou não 'careta' não importava.

E eu que pensava que isso já acontecia...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A verdade em Eco

Ao abrir uma crônica da escritora e jornalista Eliane Brum no website da Revista Época, deparei-me com uma realidade desconfortável (pelo menos, para mim): ao começar a ler linha por linha, parágrafo por parágrafo e, lentamente, ir descendo a barra de rolagem da tela do meu monitor, minha visão foi embaçando aos poucos, meu cérebro foi se anuviando e o seguinte pensamento me causou um sobressalto depois do devaneio: eu tenho preguiça de ler.

Mas antes de falar mais a respeito deste assunto, eu mesma vou bancar a advogada do diabo - que também se personifica em mim neste caso - e vou tentar explicar mais ou menos do que se trata:

Quando pequena, eu era apontada como uma espécia de "prodígio" por alguns membros da família. Antes que condenem a aparente - e quase óbvia - prepotência dos meus familiares, eu emendo explicando que eles afirmavam isto por me verem "lendo" demais com dois, três, quatro anos de idade, faixa etária esta na qual eu nem sequer sabia desenhar um O direito.

No entanto, minha audácia era tanta que, ao sentar no chão enquanto minhas tias e avós tagarelavam e tricotavam histórias alheias, eu me apossava do livro ou jornal mais próximo e "lia".

Como?

Pronunciando as palavras que eu julgava estarem escritas no papel impresso a partir das imagens que estavam ao lado do texto. E o melhor! Muitas vezes, o conteúdo estava de cabeça para baixo e eu, por não saber ler ainda, passava os dedos pelas linhas, murmurando frases, combinações e interpretações como se estivesse realmente absorta na leitura dinâmica.

Bonitinho, não? Pois é.

Eis que cresci, apaixonei-me por leitura - assunto que prefiro comentar em outro post - e engatei a quarta marcha para seguir na corrida louca por mais conhecimento. Li muito e li mais, até que hoje me considero uma fã de literatura.

Controvérsias sobre meu gosto literário a parte, que eu gosto de ler é fato. Ler no sentido de pôr os olhos sobre linhas escritas, impressas ou digitadas, absorver e interpretar o que foi lido, além de guardar na cachola da memória.

Mas enfim, o que isso tem a ver com Eco, ou melhor, sequer a ver com Eliane Brum?

O fato de que gosto de ler surge claramente como um paradoxo quando colocado ao lado do fato da preguiça de continuar lendo a crônica da Eliane no site da Época. Uma crônica muito boa, por sinal, sobre 'o bem', 'a liberdade' e (inevitável) ' o bom ou mau jornalismo'. Não vou adentrar nos meandros da crônica até que filosófica de Eliane, mas o fato é que o texto estava (no popularesco) "bom para cacete" e eu me vi naquela situação do devaneio... da viagem... da desatenção...

Porquê será?

Umberto Eco (chegamos nele!), escritor e semiólogo italiano, deu entrevista recente à Revista Época (olha ela de novo), na qual, dentre outros tópicos, falou sobre a internet. Quando eu li essa entrevista, eu percebi que aquela não era a primeira vez que eu lia sobre alguém que afirmava que o excesso de informações, que são praticamente arremessadas na cara de todo mundo que tenha acesso à web, provoca uma espécie de 'lentidão', 'demência' ou até mesmo, 'amnésia'.

Li sobre isso em um texto que foi colocado em minha prova de espanhol do cursinho que eu, jurando por tudo que é mais sagrado (e sabendo que é pecado. Ui.), prometo que irei postar por aqui assim que achá-lo. A matéria - que eu me lembre se assemelhava muito a um conteúdo jornalístico - era muito interessante e afirmava, basicamente, a frase do notório Umberto, que acabou 'ecoando' (trocadilho i-ne-vi-tá-vel) nos quatro cantos cibernéticos.

Segue um trechinho para quem não teve a oportunidade de ler essa entrevista e, mais abaixo, vou colocar o link dela na íntegra:

"ÉPOCA - Apesar dessas melhorias, o senhor ainda vê a internet como um perigo para o saber?

Eco - A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento. "

Sério, já tendo visto algo parecido antes ou não, esse tipo de frase não é daquelas que deixa a gente mais ou menos assim: "Cacete, será que é mesmo?!".

Eu considerei uma afirmação muito séria e que, inclusive, pode mudar o jeito de encarar a web, informação e comunicação de muita gente.

Não que eu queira adentrar no mundo melindroso e bizarramente complexo da comunicação (porque posso até não ter aprendido muita coisa sobre isso na universidade, mas se tem algo que eu absorvi demais até foi: é complexo pra caramba e não deve ser subestimado nunca!). Mas mesmo assim é uma coisa a se pensar, não?

A internet surgiu com uma proposta fantástica que abarcar todo e qualquer tipo de informação ao mesmo tempo, subdividir, categorizar e jogar na rede onde milhões de pessoas, como peixes famintos por grãozinhos de pão, hiper se arremessam e se aglomeram, batendo e debatendo barbatanas.

Só que: será que ao 'entrarmos' na rede não estamos todos nos 'sufocando' com o excesso de informações e sendo 'fisgados' por um sistema que só pensa em vender, vender, vender?

E o nosso conhecimento... fica aonde?

Será que eu sou mais uma vítima do bombardeio de conteúdo diário a ponto de que hoje eu já não tenho paciência para ler um texto que me agrada, mesmo sabendo lê-lo?

E antes que partam para o fato de que monitor é monitor e livro é livro, eu já esclareço: para mim, leitura interessante é leitura interessante. Não interessa a plataforma.

E aí? Como fica agora? A gente volta no tempo e conserta tudo? Ou se desespera e adota o Pagodinho's way of life: deixa a vida me levar (e a internet também)?

Fiquei um pouco desesperada com a quantidade de matérias, posts e opiniões que nasceram recentemente com este mesmo assunto a partir do brado retumbante do Eco, até porque o assunto É muito polêmico e incômodo. De certa forma, é como se dissesse, resumida e sutilmente, que essa geração tem tudo e mais um pouco para ser considerada 'menos conhecedora' dos assuntos do mundo, apesar de todo acesso às informações. Porquê? Porque não sabe filtrar e, consequentemente, absorver o útil dentro da enxurrada que vem bem diante dos nosso olhos.

Concorda comigo ou não?

Quero dizer, se é que alguém ainda está lendo depois de tanto falatório...Link

Link da entrevista com Umberto Eco: http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2011/12/umberto-eco-o-excesso-de-informacao-provoca-amnesia.html