sexta-feira, 22 de novembro de 2013

When I speak in english

Sometimes I wish to be somewhere else.

I wish to be on an island. Where I could put my feet on the sand... feel the little fishes biting my flesh while I sense the waves licking my legs... slowly... in their own rythym.

I wish to be in the desert. Where the sun would warm my face and the sand would give me directions - whether up or down - , the heat would make me feel alive and the sky would be so blue and there would be the infinite.

I wish to be in the city. Where the people around me would walk fast and talk loud. The crowd would guide me to places I've never been. The lights would blind me and the energy would lift me up, no matter how down I'd've been. Where the city could swallow me, chew me and puke me, just like in the movies.

Sometimes I wish to be home.

Where there's mom. There's dad. There's dog. There's cat. There's small talk at the table and bad mood in the morning. Where the break-ups live for minutes and patience must live forever. Where peace is easy to find, even when there's a huge fight at dinner.

Sometimes I really wish I had a home and not be back for nights.

To see if I'm missed. To experience the possibility that I am dead and watch how my family would react if I was not coming back in, like, ever.

I wish I was at a friend's house. In a party. In a club. Somewhere peaceful. Somewhere nice.

Where everybody could see me and actually see that I'm trying - so hard - to please everyone else that I forget about me every single time.

The only pleasure I get on my life is when I give someone else happiness, moods, fights, sex, anything.

I don't even care if I cum in sex anymore. Actually, I don't think I've ever cared.

I only wanted to love. And to tender. And to cherish. And to support.

And I forgot about me.

Honestly, I don't think there's a way back for me... I don't imagine myself actually caring only and exclusively about myself and my dreams. I feel empty because I learned - from myself, I don't attribute this to anyone else - to be empty when I'm alone.

I left my heart on someone else's cares a long time ago and didn't get it back. I honestly don't think I can.

I'm not saying that the person still owns it. I just haven't learned how do pulse by myself, so my heart is stuck upon a shelf somewhere... dirty, waiting for me to come back, give him home, give him peace, give him blood, give him life.

I'm on automatic right now and never been such a mess.

Still, life goes on and I continue to pretend - to everybody e to myself - that I'm a dreamer, that I don't care, that I can do it by myself.

Sometimes I wish I had no religion. That I could live without believing in God or anything that is above me.

You see, I run. I travel a hundred million miles and I still don't know where I am.

I wish I was somewhere else. Where no one could find me... but myself. Corky that way, but it is a true story.

domingo, 27 de outubro de 2013

A vida de Pi

Eu cresci pensando que eu não conseguia ficar sozinha.

Mas isso nunca foi um problema; ao meu redor, várias pessoas - familiares, amiguinhos, vizinhos, criançada em geral.

Nunca foi um problema.

Também passei por diversos momentos de introspecção, ainda pequena. Muitas horas deitadinha numa rede, olhando pro nada, divagando... sobre alguém.

É, mesmo quando estava só, eu tinha companhia.

E parafraseando uma passagem fenomenal: "naturalmente está acontecendo na sua cabeça, Harry, e porque isto siginifica que não é real?"

Era real. Sempre foi.

Mesmo sozinha, fantasmas reais me perseguiam e ainda perseguem sempre.

Criei monstros sozinha; adestrei-os; pus debaixo da asa e protegi com todas as minhas forças.

Não, eu não estava lá sempre. Da mesma forma como eles saíam para viver suas vidas e nem sempre estavam lá por mim.

A cobrança é intríseca aos laços.

Se de um canto puxa, o outro tem que exercer máxima força para equilibrar as forças, do contrário, um dos lados vai cair.

E sempre cai.

Me mudei mais de uma vez e não posso dizer, hoje, que estou acostumada.

Não me acostumei a dizer adeus pela janela do carro, lágrimas aos olhos, coração na mão. Me despedi dessa forma brusca de um cachorrinho que era meu e que, por motivos diversos, não poderia ficar comigo aonde eu ia. Deixei nas mãos de quem confiava, mas a cena em que o vi, relutante, debatendo-se nos braços de alguém, desesperadamente aflito por nos ver indo embora, sabendo, de fato, que não iríamos voltar tão cedo e, - pior - que de alguma maneira escolhemos sua amiguinha - meu outro bicho de estimação - para ir junto e não ele, tudo isso rasgou meu ser por dentro e nada se emendou até hoje.

Eu nunca chorei em partidas. Não acho necessário, porque se for para continuar, vai continuar e não são léguas de distância que irão abalar isso.

Não acho digno choros de despedida quando depois, sem muita explicação, se desenvolve um vácuo entre duas pessoas onde tanta coisa preenchia.

Meses depois, reencontrei este meu cachorrinho em uma de minhas férias.

E aí, a surpresa: ele veio, uma bolinha branca com um olhar astuto, curioso. Carro na garagem. Quem será? Na indecisão do corre-ou-não-corre para cumprimentar os recém-chegados, ele se desarmou com outra bolinha branca cujo cheiro ele reconhecia muito bem.

Correu de encontro a sua amada e, juntos, fizeram festa por alguns segundos.

Logo depois, com seu olfato canino, reconheceu outras pessoas.

Daí, o inesperado. Eu fui a última.

Não, não vou dizer que houve uma reviravolta na história - que ele me reconheceu por último e que, posteriormente, passou muito tempo pulando em cima de mim, me lambendo ou saudando minha vinda.

Pelo contrário, foi rápido: uma cheirada e tchau.

Não preciso dizer, também, que aquilo doeu, muito mais do que as pessoas mais endurecidas possam imaginar. Besteira, coisa de cachorro! De fato, não pareci me importar e continuei minha visita à família que não via há muito tempo normalmente.

Mas aquilo se tornou um início de várias coisas e pessoas que vieram, fizeram história comigo, partilharam de momentos únicos, foram irmãos, irmãs, amigos, família e depois foram embora, diversas vezes por motivos tão ínfimos que não consigo nem lembrar ou enumerar.

Ir embora não é o problema.

O problema é não saber reconhecer, ou deixar claro para o outro, nem que seja por um segundo, que você foi importante na sua história. É não relembrar com um brilho nostálgico nos olhos quando alguém menciona aquele nome. É não saber reconhecer que aquele alguém merece mais do que sua indiferença/orgulho/mágoa.

É ter certeza que mais vale as palavras ditas, mesmo dolorosas, do que um silêncio infantil, desagradável e perpétuo.

É saber que a vida é curta e nós temos que dizer o que queremos dizer, especialmente para quem a gente se importa.

A corda volta a puxar de um lado e o outro cai.

Não vou mentir que muitas vezes falei demais. Outras, calei demais. Sou humana, também erro.

Mas, recentemente, sinto que este ciclo de despedidas mal feitas e corações arrebentados por motivos pequenos me sonda como uma praga.

Algumas vezes é difícil dizer adeus, mas talvez eu conseguisse se a honestidade fosse prioridade número um de quem está do outro lado...

"Em algum lugar dois olhos estavam felizes por eu estar lá. Eu tinha certeza que Richard Parker olharia pra mim, que de alguma forma sinalizaria o fim do nosso relacionamento. Mas ele não o fez. Ele desapareceu para sempre da minha vida. Eu chorei como uma criança, não por estar aliviado por ter sobrevivido, embora estivesse. Eu chorei porque Richard Parker me deixou sem nenhuma cerimônia. Partiu meu coração. Todos estavam certos, Richard Parker nunca me viu como amigo. Depois de tudo que passamos juntos ele nem olhou pra trás, mas eu acredito que havia mais nos olhos dele do que apenas o meu reflexo me olhando de volta. Eu sei disso, eu senti, mesmo que não possa provar. Olha, eu deixei tantas coisas pra trás... Suponho que no fim a vida seja um processo de abrir mão, mas o que sempre me doeu mais foi não ter um momento pra dizer adeus"
(Life of Pi)

sábado, 12 de outubro de 2013

Playin' the victim

Já que escrevo cartas para ninguém, devo começar dizendo que eu tenho muito medo de morrer.

A sensação vem o tempo todo e agora com mais frequência.

Tenho medo de alguns psicopatas que cruzam meu caminho e tenho medo de algumas situações que a vida me impõe e que não sei lidar.

Tenho medo inclusive de escrever tudo isso porque sei que este texto vai parar nas mãos erradas - assim como sempre para.

Os que estão mais interessados em ler o que eu tenho a dizer são aqueles que querem a minha ruína e querem descobrir pedacinhos frágeis que possam se utilizar contra mim no momento em que acharem oportuno.

Não nasci pronta pra batalha, tampouco sou ingênua a ponto de não sacar cada um de vocês.

Não sou a melhor - a mais atlética, a mais talentosa, a mais desenvolta -, mas consigo sacar quando estou dando murro em ponta de faca e quando estou lidando com gente que não presta ou que não merece a atenção.

Tenho tantas inseguranças que enchem o pote e não consigo caminhar sozinha sem alguém do meu lado.

Faço-me de vítima sempre que possível e interpreto draminhas que vão te deixar marejando em simpatia.

Sou egoísta e posso ser vingativa sempre que julgo interessante.

Sou orgulhosa e virar as costas para mim, justo quando eu não esperava, pode ser a última ligação que possuímos juntos.

Blá, blá, blá, o que eu quiser falar.

Acho, sim, que eu mereço mais que muitas pessoas e que estou ficando para trás por causa da porra da sacanagem do destino que dá lugar pra gente que nasce com o cú voltado para a lua.

Fazer o quê, é mais uma revolta de uma burguesinha que não sai, conta grana, conta gramas, não tem roupa bacana e nem é chamada pra sair com mensagem de texto.

Não, cacete, essas não são as únicas coisas que importam na vida!

Mas fodam-se os hipócritas, cada um tem sua cruz, cruzeta, cruzinha e faz o que quiser com ela.

Perseguir sonhos não é fácil e ficar entre quatro paredes com um mundão lá fora é ainda mais difícil.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

'Tá foda!

Eu não lembro quando tudo começou, quando eu comecei a ficar ranzinza com essas coisas e parei para questionar e franzir o cenho sobre elas.

Eu sei que não é de agora e faz muito tempo.

Entregar-me ao belo é como uma droga. Me fascino pelo que tentam me vender porque ornamentam muito bem e sou quase que impulsionada a acreditar em tudo que a mídia tenta me enfiar e goela a baixo.

Mas porquê não deveria?

Soa muito bem, é agradável aos olhos e quase sempre é gostoso ao paladar.

Me vejo escrava de tudo isso e com poucas - e milagrosas - possibilidades de volta.

Recentemente me vi envolta numa enxurrada de ditaduras absurdas e numa sociedade tão "livre" nunca vi tantas normas.

Ouvir da boca de um jovem, bonito e simpático regras e mais regras que ele dita, bem ditado, com um grande sorriso no rosto é frustrante.

O Fuhrer atual está circulando entre as pessoas mais bacanas que conheço até as mais antipáticas nas quais não faço questão de prosseguir quaisquer diálogos.

Numa sequência quase que ininterrupta, o rapaz conseguiu ditar- volto a repetir, com orgulho - uma longa lista e "poder" e "não poder" de alimentos que nos são oferecidos hoje pela mídia, pelo mercado, pelo escambáu.

E friso novamente, com um sorriso no rosto.

Lembro que vi recentemente um filme, daqueles pastelões, onde dois policiais, supostamente fracassados, são mandandos numa missão à paisana num colégio de ensino médio norte-americano como uma espécie de punição por uma trapalhada que fizeram nas ruas. O objetivo: capturar um traficante de drogas que estava vendendo à torto e direito dentro da instituição.

Um deles era uma "tragédia social" na época da escola e o outro um bacanão boa-pinta. Obviamente, quando são instruídos da missão, o bonitão toma as rédeas e decide que, por sua experiência bem sucedida em seu passado adolescente, deve conduzir a dupla no que, mal sabem, tornaria-se um confuso e surpreso desafio.

Os jovens populares, os manda-chuvas da parada na escola onde os dois oficiais são enviados não são mais  do mesmo perfil de rebeldes e populares que o "Boa Pinta" costumava conhecer. Os novos "rebeldes" são aqueles que se importam com o meio ambiente e vão de bicicleta pra escola e não de carros tunados e saltitantes. Vestem-se com decoro e usam as duas alças das mochilas nos dois ombros para não fazer mal a coluna. Comem bem e se importam com a saúde de seus corpos ao invés de se entupirem de hambúrgueres e coca-cola (mesmo que não tenha nenhum ratinho dentro, haha).

Não queria me prolongar demais no resumo da história do filme mas é porque o próprio fala por si só.

'Tá foda.

Está cada vez mais difícil entender, na minha cabeça, o que É ser jovem.

A ditadura da beleza, da magreza e todos os 'ezas' possíveis trouxeram uma enxurrada de leis e regras que são cagadas - desculpem - por meninos e meninas, jovens que, sim, sentem orgulho de saberem de cor e salteado todas as calorias de um x-burguer.

Na mais clichê das expressões, eu digo: fala sério!

Eu não estou entendendo mais nada.

Mais um exemplinho:

Na minha brilhante - sem ironia - ideia de fazer Produção Musical com foco em Música Eletrônica, um dos meus geniais - novamente, sem ironia nenhuma - professores nos deu uma excelente aula sobre os movimentos punk e do hip hop.

Na aula, nosso professor abordou brevemente a história de ambos os movimentos, assim como seus conceitos, ideologias e contextos. Essa disciplina tem como propósito nos instigar a investigação de estilos musicais diferentes, assim como nos dar base para ampliar nossos repertórios musicais como futuros produtores que vão trabalhar diretamente com isso: música.

E o quão lindo foi ver trechos do documentário que conta a história da banda punk inglesa, Sex Pistols. The Filth and The Fury ("O lixo e a fúria") relata o movimento que mudou o pensamento jovem de tantas maneiras e que tem seus galhos enraizados nas vertentes musicais até hoje.

O doc emociona quando mostra jovens que não sabem tocar, cantar ou sequer são visualmente atraentes se vêem frente a frente com a idelogia do do-it-yourself (faça você mesmo) e decidem que, porra, já era hora de alguém falar alguma coisa!

De famílias sub-salariadas e numa crise pós-guerra, com direito a greve de "lixeiros" de Londres e uma cidade hospedeira de lixo enquanto o glam não saía das ruas dando um contraste incrível e sufocador, os garotos do que viria a ser o Sex Pistols ensaiavam brigando e faziam performances que remetiam ao "Corcunda de Notre Dame" - grotesco, mas que chama a atenção de alguma forma.

E para compreender melhor estas minhas analogias que parecem sem sentido, vou anexar o vídeo com este doc muito bem feito por Julien Temple abaixo quase como um glossário para as minhas divagações sobre a minha juventude.

Voltando aos Pistols, o que é fantástico é ver o que não aparentemente ter vez e voz ganhar ambos em meio a guitarras distorcidas e gritos de revolta.

Na cidade onde o caos era comum à classe C, as manifestações faziam sentido. E a música seguia tudo isso.

Foi porque fez sentido que os Pistols fizeram sucesso mesmo não correspondendo à nenhum padrão da época.

Foi porque fez sentido o que diziam que suas letras se tornaram históricas.
Foi porque fez sentido que eles se eternizaram e são idolatrados até hoje.
Foi porque fez sentido que eles foram e ainda são - para alguns - a cara da juventude.

E hoje?

Nada faz sentido pra mim. Tenho algumas boas referências de blogs, pessoas e instituições que lutam para tentar calar de alguma forma o Fuhrer da beleza, da magreza, da mulher como objeto, do funk ostentação, do forró e sertanejo que assassinam e dilaceram nossa cultura original, da injustiça social, do racismo em demasia, do dinheiro que supera a arte e da falsa alegria das redes sociais.

Vejo essas bandeiras e fico emocionada tanto quanto fiquei com o documentário que vi dos Pistols.

Ali estão nossos punks. A revolta hoje é contra a própria juventude: chata, misógina, caga-regras, rotuladora, superficial e babaca que aparece na TV e na internet PENSANDO que representa alguém.

Como já vi a autora do blog "Escreva, Lola, Escreva" comentar: ainda há esperança. E putz, se ela, depois de ler tantos absurdos, afirma que ainda tem esperança, talvez ainda tenha e eu embarco com ela nessa.

PS: Quanto ao diálogo com o jovem da história acima, quero esclarecer: converso e entro, até demais, nestas conversas porque também acredito num equilíbrio de interesses - entre o certo e o errado. Só senti esta necessidade de desabafar sobre isso porque... ah, porque pra mim, chega!

Como prometi, "The Filth and the Fury". E se você, como eu, também tá entrando na onda dos novos Fuhrers, inspire-se!

domingo, 28 de julho de 2013

Fábula

Você acorda no meio da noite de sobressalto.

O mesmo impulso de sempre, muito familiar, te conduz a um destino desconhecido. Você nao sabe para onde seus pés, agora calçados em chinelos, podem lhe conduzir.

Como um puxão na altura do umbigo e com a altivez de um dever importante, você se deixa levar pelos instintos e vai, praticamente às cegas, de encontro ao que te chama.

Vagueia pelos corredores, hoje com paredes descascadas daqueles mesmos aposentos que você pintou e reformou tantas vezes. As dobras e protuberâncias de cada pedaço da casa, tão familiares quanto teu próprio corpo. As flores do papel de parede estão amarrotadas como que murchas e os rasgos de infiltração parecem rugas no teto e nas portas que abrigaram tantas coisas ao longo dos anos...

Tantas emoções, frustrações, brigas e reconciliações.

Lar doce lar.

Você continua caminhando e tropeça em um objeto ou outro que está ao chão.

Rastros de um descontrole emocional da noite anterior.

Dentro em pouco, você arrumará aquela bagunça. Primeiro, o dever chama, esqueceu?

Tantas coisas, tantos objetos, tantas recordações... O seu esforço, a sua dedicação, a labuta diária, uma busca pelo equilíbrio para que nada seja deixado de lado. Tudo em prol de comida, afeto e outras coisas que eram para vir de graça num mundo ideal.

Tudo comprado, tudo adquirido.

Bom trabalho, quer uma medalha? Você conseguiu sobreviver de sofrimentos e heróis são feitos de dificuldades e não de alegrias.

O dever chama.

Agora, você ouve com mais nitidez os suspiros e os gemidos de aflição.

Ah, aquela voz tão familiar... Você ouve aquele choro desde quando eram gritos no meio da noite, indefesos, assustados e assombrados pelos monstros imaginários da infância, pelas dores que nao conseguem ser expressadas, pela solidão que o tomava de susto na noite, quando ele olhava ao redor e não via ninguém no escuro.

O dever chama.

Mas não havia dever - e ainda não há, porque pelo visto a caminhada continua - mais satisfatório que aquele. O alívio dele se torna seu alívio quando, embalado em seus braços, os monstros desaparecem aos poucos, sendo enterrados novamente onde vieram. Seus olhinhos procuravam os seus, ansiosos, suas mãos tateavam pela sua face, desesperadas. A angústia também era a sua, o pavor também era seu.

Ao debruçar-se, no hoje, pela soleira da porta, viu o pequeno, já grande, envolto em um manto vermelho de sangue.

Sua visão congela e seu corpo não reage mais aos estímulos. O choro, hoje grosso e embargado de sofrimento mundano, quase que lhe ensurdece e tudo se torna turvo.

Aquele corpo, com aquelas marcas e sinais que você tanto conhece, caído, ensaguentado, como de um guerreiro em fim de batalha. Ele chora, copiosamente, pela própria dor.

- Dói. Me ajuda, por favor, dói.

Você continua sem ação. Qual fora o motivo daquilo? O que acontecera?

Pior: como você deixou acontecer? Ele nunca deveria ter deixado o pequeno leito que você comprou, pensando na melhor posição de dormir e nas supostas alergias que poderiam ser desencadeadas ao longo dos primeiros meses de vida.

Como aconteceu?

Então, de súbito, você percebe que o sangue não é só dele. Um outro corpo, inerte, aberto, sangrento, está ao seu lado e ele o escolta como se necessitasse da proximidade entre os dois.

- Eu o matei. Eu o matei.

Ele grita.

O sangue em suas mãos, a faca pontiaguda e brilhante ao lado era uma coadjuvante no cenário trágico e parecia ter vida, mostrando-se arrependida da desgraça que acabara de causar.

Você tenta se abaixar, tenta o embalar, mas não consegue. Como se uma parede invisível te separasse daquele que você cuidou, desde pequeno, e que agora suplica por ajuda por conta da dor.

Não há o que fazer...

Aos poucos, toda a conjuntura começa a fazer sentido. A faca, os dois corpos brutalmente feridos, tanto, mas tanto sangue.

Aquele que veio de você pareceu ter aprendido o melhor, apesar dos seus próprios demônios.

Fora induzido ao crime, mas não suportou a própria culpa. Viu-se obrigado a se esfaquear para equalizar o que estava fora de equilíbrio. Sacrificou-se pela vida que ele mesmo apreciava - e isso, vale ressaltar, é o ponto alto da questão: ele amava o corpo morto ao seu lado.

Tudo que levara aquilo ele aprendeu com você. Buscar o equilíbrio, sacrificar-se por quem se ama, pôr um fim no sofrimento de quem se quer pelo resto da vida por perto.

A ironia de tudo aquilo lhe mata por dentro e você se vê sangrando da mesma forma, o gosto amargo subindo a sua garganta.

- Me ajuda, por favor... Não agüento mais...

Sem ter noção dos seus próprios movimentos, você se agacha. Sabe que é tarde demais pra ele pela respiração difícil, pela profundidade dos ferimentos, pela quantidade de sangue derramado.

Tarde demais.

Não havia embalo, canção ou qualquer palavra que pudesse salvá-lo e retirar todo aquele sofrimento para longe.

Deus, não havia imaginado aquilo! Depois de tudo, depois de tanto.

Involuntariamente agarrou o colarinho de sua camisa e puxou o rosto pálido e quase sem vida do seu filho de encontro ao seu.

Você sente seu hálito, sua respiração fraca - como nos dias de gripe -, seu suor frio e pegajoso - como nos dias em que a febre lhe perseguia como um predador.

Não era a mesma coisa.

Agora era tarde demais.

O amor, o equilíbrio, o sacrifício estavam o levando, aos poucos, para onde você não pode alcançar.

Sabia que ele não interpretaria errado suas palavras assim como também tinha conhecimento que ele o conhecia demais para encará-las como uma despedida amorosa.

Era sua carne.

Fechou os olhos, testa contra testa, e murmurou, quase sem forças:

- Eu nunca quis te ter.

E a reação dele diante dessas palavras foram as esperadas, o seu último presente especial de cria para progenitor: um sorriso fraco, trêmulo, pálido diante da morte.

Deixou que se fosse, contrariando a ordem natural das coisas.

E, no fim das contas, enquanto embalava o corpo morto que ajudara a vir ao mundo, a sobreviver e a morrer, deu-se conta de que a ironia da tragédia seria pontuada como apenas uma profecia amarga que você mesmo fez e, ainda por cima, atribuiriam a culpa daquilo na sua falta de atenção, na sua ausência e no seu pessimismo.

Mas a morte de quem você mais amou, no fim, lhe trouxe a sentença de solidão que você sempre carregou apesar de todos ao seu redor. A morte lhe trouxe a certeza de que o amanhã mais completo é aquele em que o equilíbrio, o amor e o sacrifício formam elementos óbvios e que a busca é desnecessária.

A morte lhe trouxe o verdadeiro sentido da vida, enquanto acariciava os cabelos de alguém que não ia chorar mais, não ia sofrer mais, não ia sentir qualquer dor.

E a vida fez sentido quando você se lamentou por si, desejando estar morto no lugar de alguém.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Hora da feira

Meus heróis estão vivos.

Fazem filmes, escrevem livros, compõem música...

Estão lá fora, estão dentro da minha casa.

Eu não sinto falta daquilo que ainda não se foi. Até porque ainda não se foi e nem deu pra sentir falta...

Meus heróis são de carne e osso e me levam a lugares imaginários.

Escrevem, produzem, atuam, evoluem.

É complicado acompanhá-los ao mesmo tempo, muitas vezes. Mas, pra minha geração, isso é normal. Eu ligo aqui, ouço dali, acompanho acolá e tá tudo certo!

Eles - os heróis - me emocionam. Com palavras simples, sem rodeios, com melodias humildes e ousadas, com imagens previsíveis e tocantes ainda assim.

Eles me bastam, e como se eu temesse uma grande depressão, onde nada mais tenha graça, consumo tudo que posso, coração apertado, ansiedade nos dedos, nas pupilas, nos meus gestos.

Mas não só de fama são feitos os ídolos.

O maior problema é quando você sabe - e sabe muito bem - que todos eles, os distantes e os próximos, são de carne e osso. Têm defeitos. Cometem enormes burradas e encabeçam uma grande confusão na vida das pessoas... ou melhor, na sua vida.

Eu perdoo e espero que tudo se resolva até a perfeição ser alcançada novamente?

Difícil...

Acho mais fácil passar para trás e seguir em frente.
Dói mais. Me custa menos.

O preço é acessível, apesar do gosto amargo - tal qual um café barato.

Meus heróis, meus amigos, meu convívio diário, todos, todos, sem exceção, são de carne e osso.

E estas mesmas matérias são as que compõem a circunstância ao meu redor. Elas se repetem, rítmicas, num mesmo padrão, sempre. Cansam.

Mais uma vez me vejo impulsionada a tomar a atitude que me ensinaram há alguns anos atrás.

Vai pra lá, eu pago o preço.

Estou disposta, é baratinho?

Tô dentro.

Não me importa se me rasga por dentro, quero de qualquer jeito.

Mas eu aprendi assim, é o que sou.

Não, não dá pra mudar.

Eu pago.

E a expectativa de comportamento de uma moça de 22 anos se esvai. Eu não me agarro às lembranças e aos porta-retratos.

Nunca tive um pequeno mural com pequenas fotos ao meu redor.

Compartilhei de algumas futilidades como todo mundo. Foi a hype, pode pôr a culpa nela...

Mas nunca acreditei em muitas coisas que fiz - que fiz porque todos faziam.

Os meus heróis, os mais próximos, não podem me enxergar agora. Estou muito longe da compreensão. Não sou tão dramática, nem tão simplista. Nem tanto cabisbaixa, tampouco sigo aquela linha que eu nem consigo descrever de tão absurdamente fora do normal. Minha medida sou eu quem determino. Depende das circunstâncias...

E agora, elas não estão muito positivas.

Só uma fase. Passa.

Eu pago o preço. De novo, é claro, mas isso a gente não precisa mencionar.

Os meus heróis, os mais distantes, nunca me enxergaram e ainda não conseguem me ver. Nem quero que me vejam. Quero continuar com a imagem que eu mesma pintei, sem influências da verdade. Neste caso, a verdade pouco me interessa, quero continuar na ilusão cega que me conforta.

Aliás, queria que me enxergassem por esse mesmo espelho, assim não se "decepcionariam" com a minha imagem fraca, não é mesmo?

Aparento ser de aço e na verdade sou uma falsa joia? Será?

Bom, era o que eu queria, não é? O preço barato - algumas roupas, alguns motivos, algumas palavras - e a consequência de me verem como eu realmente sou: tudo aquilo que lutei, e ainda luto, contra com todas as minhas forças, por razões que ainda vou compreender melhor.

Mas não quero parecer uma pessoa repetitiva, rancorosa e imatura.

Tenho que aprender a absorver tudo. Do positivo ao mais negativo.

O problema é que eu não sou de aço, lembra? Sou uma joia falsa.

Assim como você, claro. Como todos vocês. Como todos nós.

Mais uma vez, isso é só um pequeno ponto da conversa.

Para resumir: eu quero mesmo é pagar o preço. É uma pechincha, não vai doer no bolso. Só o incômodo que é quase tão intragável quanto purgante. As palavras bonitas não conseguem descrever a sensação.

Palavras sofisticadas são floreios em merda que não conseguem mudar absolutamente nada.

Merda continua sendo merda.

E é bem baratinha.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Mais uma pérola

Ele caminhava de cabeça baixa.

O frio incomodava um pouco, mas ele gostava daquele molhado, úmido, incômodo com o vento frio. Endireitou as abas da gola do casaco e continuou em direção a escola.

Um pingo de chuva que transbordou dos seus cabelos ruivos, curtos e gelados, bateu na ponta do seu nariz e, de lá, para o chão sujo de lama.

Ele tinha por volta de 1,50. Baixinho, olhava fixamente para o chão e o momento do inverno - da alma e da estação - nunca lhe fora tão aquecedor.

Com os pensamentos fixos no que lhe provocava ódio e sentimentos controversos, não havia espaço para dúvidas, justificativas amenas ou qualquer outra porcaria que sua podre consciência tentasse lhe empurrar.

Mesmo com os olhos semi-abertos, encarando o chão enquanto caminhava, era outro filme o que podia enxergar naquele momento.

Apesar do tom meio gris-azulado do dia de frio, sua visão era embaçada por vermelho.

Em primeiro lugar, odiava aquela garota. Prepotente, vidinha perfeita, corpinho perfeito, bons dentes. Veio, fez o que quis. Partiu. O que mais a fazer?

Não podia reivindicar seu amor, pois não a amava. Não podia chamar sua atenção, pois, talvez, nunca a tivera - apenas alguns relances de diálogos curtos. Não podia reclamá-la, porque nunca tinha feito questão de sua presença.

A ambiguidade era tanta que lhe entalava; e era ela que dava ódio.

Mas não só ela, veio junto a pequena crise em que se encontrava.

Olhou para o portão da escola quando reconheceu os cascalhos da entrada. Nada de novo ali. O mesmo portão choroso de pingos de chuva, como se ele mesmo pedisse para que seus alunos não entrassem lá.

Um ambiente que nunca lhe agradou por completo.

Ora era pelas lições; ora pelas companhias. Quando um não era o vilão, o outro tomava seu lugar.

Na verdade, a insatisfação era uma companheira e caminhava lado a lado com o pequeno por onde andasse.

Espirrou pela frieza da chuva e ouviu risadinhas contidas de um pequeno grupo ao seu lado. Devia estar todo molhado e ridiculamente solitário.

Deu de ombros internamente. Não fazia questão.

Caminhou para a sala de aula, deixando rastros de chuva, lama e uma cara séria por onde passou.

Por muito tempo, todos iam lembrar daquele rosto de espinhas, nariz longo, boca pequena, sobrancelhas e cabelos ruivos com aquela mesma cara de poucos amigos... como quem indicava que aquele era um grande dia.

Entrou na sala e discordou da professora.

Havia uma votação na escola sobre uma possível extensão do período de intervalo entre aulas. Os alunos escolheriam por mais cinco minutos de interrupção entre uma aula ou outra - que já eram de iguais cinco minutos.

Ele discordou. Dela e da turma inteira que votavam por mais cinco minutos.

Ele não sabia expressar o quanto achava desnecessário aqueles minutinhos a mais. Algumas palhaçadas que percorriam os cinco minutos já existentes lhe deixavam enojado. Aumentar aquele tempinho não era necessário e só alongaria ainda mais o tempo que passavam dentro da escola - aquela, dos portões chorosos e não-convidativos.

Mas parecia que, para todo mundo, aquilo era coerente. Ele entendia. Mas não queria.

Um borbulhar de crescente ódio aumentou ao vê-la votando a favor.

Algumas lembranças em relação à noite passada também não o ajudaram. Gritos pela casa e louças estilhaçadas eram apenas o mínimo, comparados ao inferno pessoal e interno que era obrigado a passar toda vez que aquilo acontecia - e agora com uma frequência assustadora.

Danem-se esses problemas dos outros quando os meus estão me matando, ouviram?? Me matando!!

Foi assim que decidiu.

Preferiu deixar que a incompetência da polícia levasse seus meses para descobrir como arranjou a sua grande arma.

Sem pejorativos, retirou um pequeno revólver - o que iria ser analisado pelo policial Fraga, Oliveira, Simões, o que-incompetente-fosse - e apontou para o pequeno rostinho da garota.

O susto, o pavor, os olhos brilhando de pânico. Tudo isso somado aos gritos da turma inteira, dos pedidos desesperados e trêmulos da professora. Tudo aquilo aumentava seus ressentimentos que agora eram grandes demais. A visão estava quase cega de rubor do sentimento de guerras.

Os gritos ficaram mais altos, mais apelativos.

Não via ninguém, não ouvia ninguém. O foco ainda era aquele rosto bonito, em pânico, que provavelmente via a vida passar diante de seus próprios olhos naquele momento.

Mudou de ideia. Seria egoísta e clichê demais se a sentenciasse.

Queria que vissem. Queria que enxergassem. Que todos estavam doentes e ninguém ia resolver absolutamente nada.

Ah, como tudo melhoraria se todos soubessem daquilo.

Não bastavam as desculpas da garota, a desistência dos que lutavam, a consciência de quem dividia o teto com ele. Nada iria mudar. O problema era aqui. Agora. Dentro de si. Ninguém ia resolver, nunca -

Resolveu. Apertou contra a própria têmpora, sentenciando-se num destino ainda mais clichê do que a morte da "pseudo-amada". Mas percebeu isso tarde demais enquanto seus pedaços respingavam na amada, no colega, na professorinha. Pedaços e pedaços de mais um Jeremy cansado dos próprios problemas e não dos problemas do mundo.

Ou talvez o mundo todo pesasse demais por sobre os seus ombros, de forma que não pôde mais aguentar...

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Expresso quente

De vez em quando a "má sensação" some e daí eu chego a pensar que está tudo bem.

Talvez seja mais uma boa dose de drama, regada a um vocabulário pobre. Meu café é tão pequeno diante de diversos cafés gigantes, transbordando, quentes que pelam os lábios e a língua de quem tenta tomar daquela caneca (xícaras são pequenas demais).

Os problemas de todo o resto das pessoas que conheço são grandes demais para mim. Tão grandes que eles nem se incomodam em compartilhar. Talvez seja melhor mesmo... mal posso aguentar os meus pequenos "expressos" quanto mais os "lattes" dos outros.

Pois bem, que meu "expresso" não seja esquecido em momento nenhum, pelo menos por mim mesma, para que não reste dúvida que eu não posso me animar demais. Nunca.

Aliás, taí um conselho que eu utilizo de minha audácia para sugerir a qualquer um, por menos que eu saiba da vida do indivíduo:

Lower your expectations.
(Inclusive, nenhuma outra língua expressa tão sonoramente bem a acidez deste conselho)

Mas antes que eu me adentre no tópico das frustrações, deixe-me partir apenas para o lado seco da realidade.

É ruim, tem gosto amargo e o ciclo continua.

Vão existir momentos em que vai parecer que tudo está bem e que a vida é dignamente abençoada por algo ou alguém. E pode até ser. Mas o chão é perto, mesmo para quem está a um tropeço de uma queda vertiginosa para baixo.

Minhas palavras não conseguem corresponder o que se passa por dentro...

É como se a alma tentasse ser mais culta que o próprio dicionário. Não existem palavras para descrever as piores sensações.

E é quando ouvir música me acarreta uma puta dor de cabeça que eu vejo que está tudo errado.

Dói e causa um certo desespero. Mas dá pra aguentar. Nada como se sentir blue realmente "feeling the blues".

Argh, os clichês me angustiam!

Como eu queria escrever melhor e emocionar multidões com meus desabafos sem sentido.

Já tive que ouvir cada colocação quanto ao que escrevo e apenas um sentimento sobra disso tudo: a vontade de continuar.

Sou meio teimosa, insisto em estar presente mesmo quando acham minha presença irrelevante.

Não foi assim que fiz quando me tiraram de lá? Eu continuei aparecendo, até ser lembrada como aquela que foi, mesmo quando saiu...

E por aí eu vou tentar a sorte. Vou carregar nas minhas bagagens a solidão que sempre, eu repito, sempre, esteve presente comigo, mesmo quando cercada de colegas num parquinho em sépia ou ainda nas reuniões regadas a álcool e boas e más companhias da adolescência.

Vejo-me só quando alguém me abraça. Vejo-me só quando alguém diz que queria que eu ficasse. Vejo-me só quando alguém diz que eu sou muito importante. Vejo-me só quando alguém diz para eu não ir embora. Vejo-me só quando alguém diz que sou amiga. Vejo-me só quando alguém diz que eu sou uma ótima colega de trabalho. Vejo-me só quando alguém me chama de 'amor'. Vejo-me só quando alguém realmente se importa comigo.

Vejo-me só o tempo todo.

E talvez seja por isso que eu continue escrevendo, sem vergonha de me expôr, de colocar para fora qualquer que seja a pilha de expressos pequenos que eu tenho que colocar. Acho que, no fim, estou sempre num monólogo, falando comigo mesma, tentando me confortar num mundo/universo em que ninguém se importa com ninguém a não ser com o próprio coffee-shop.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Save Rock and Roll


Eu nunca fiz isso até porque nunca quis me meter a entendedora antes de ser uma. Mas essa não pude deixar escapar...

"Put on your war paint!"
(The Phoenix)

Não vi forma melhor de começar. Ao longo dos meus 22 anos tive o prazer, raríssimas vezes, de ouvir músicas que mais do que me fazer tamborilar os dedos, me fizessem sentir um orgasmo musical, estremecer em um ribombar de caixas, lacrimejar ao estourar de pratos na hora certa e me arrepiar os cabelos da nuca no agudo mais gritante de uma guitarra ou nos "vais-e-vem" rítmicos e pesados de um bom baixo.

"Save Rock and Roll" (2013) é pretensioso. No nome e a proposta pesadíssima que vem junto. Na época em que o estilo épico e controverso se desdobra em bandas que valorizam demais a estética da letra e se esquecem dos riffs que podiam estar lado à lado com ela ou ainda, quando o "param-pampam" das guitarras esquiva-se de uma boa melodia e de letras minimamente desafiadoras para a sociedade ou para o próprio ouvinte - para que ele possa se desafiar, se perguntar - e são substituídos por romancezinhos piegas ou reinvidicações sem sentido, eu junto toda esta premissa prolixa pra ser pretensiosa que nem os caras do Fall Out Boy nesse último disco.

Como que prevendo as bombas indignadas dos mais xiitas roqueiros, Patrick Stump começa o álbum recém-lançado com uma convocação para a guerra: "put on your war paint!" é o primeiro trecho da música "The Phoenix", faixa 1 do disco. A voz abafada do líder acompanhada de tambores e um instrumental quase que clássico - a la revolta revolucionária - antecipa mais e mais versos fortes e, sim, ouso dizer que antológicos.

"You know time crawls on when you're waiting for the song to start, so dance along to the beat of your heart"
(The Phoenix)

Traduzindo sentimentos de uma forma extra-sensível, os meninos do FOB nunca foram tão refinados e afinados... com o rock and roll, sim! A sequência de frases memoráveis ao longo da - apenas - primeira faixa do álbum é algo que comove. Mas não, não pensem que esqueci da melodia e dos riffs bem dosados e muito bem articulados. O som é pesado... e dançante.

A proposta do rock ao longo do tempo foi o de causar também, dentre o turbilhão de emoções porquê não, a vontade de pôr pra fora o que o corpo não consegue segurar. Seja no mosh ou nos pézinhos twist and shout.

Esta característica sempre foi familiar do Fall Out' e, inclusive, ouso - mais uma vez - dizer que os caras inovaram justamente nisso, quando começaram sua sequência invejável de sucessos a partir de 2003. "Dance, dance", do álbum From Under the Cork Tree não me deixa mentir. Foi hit nos EUA e no mundo inteiro, trazendo aquele rock enérgico e animado, próprio para as pistas de dança dos anos 60 e que andava escondido nas prateleiras, empoeirado, finalmente dando-o uma nova roupagem, mais limpo, mais moderninho, sem exageros ou floreios. (Aliás, demos a César o que é de César: o que FOB fazia dos EUA, os caros do Arctic Monkeys faziam lá da Inglaterra também).

As letras surpreendentemente sensíveis e os títulos curiosos do FOB também não são novidade. Aquela cartinha feita pelo gordinho da sala para a menina mais bonita da escola ou então a vingança do mesmo rechonchudo para o valentão da classe são apenas um terço do cenário que as letras, na maioria do baixista Pete Wentz, podem ilustrar. A voz de Stump, quase que desesperada (com aquele pézinho no hardcore) e que vai e volta num low-and-high gostoso (herança do pai de Patrick, cantor profissional de folk) torna tudo um espetáculo irresistível de ouvir.

"Let's be alone together, we could stay young forever, sing it from the top of your lungs"
(Alone Together)

Eu quis colocar diversos trechos de músicas do Save Rock and Roll durante meu comentário deste álbum porque esta é uma características do disco: se auto-descrever.

Tá bom, mas nem tudo é um mar de rosas. Quando os caras do FOB resolvem inovar e fazer hits como "My Songs Know What You Did in the Dark (Light 'Em Up)", principalmente dentro dum álbum com o título deste último, eles cutucam a grande onça do rock com vara curta. Os mais 'old school', mais acostumados com o rock puramente contestatório, insensível, cervejeiro e mulherengo, e até mesmo os adeptos mais antigos dos sons do FOB, podem entortar o nariz, a cabeça, os membros e o corpo inteiro ao ouvir batidas de hip-hop com um sample típico de rap e com paradinhas também costumeiras do ritmo bambataa. Isto tudo mesclado com refrões descendentes de uma boa cultura pop: chicletes mesmo! Não é a toa que, num ato de desespero, encaixaram Fall Out Boy numa nova categoria: pop punk.

Han?! Eu entendo, é de enlouquecer...

Mas isso já não é novidade. Eles já estão acostumados com isso. Não é a primeira vez que a banda causa este rebuliço no mundo da música ("This ain't a Scene, It's a Goddamn Arms Race" tá aí pra provar) e olhe que os famosos haters nem ouviram "The Mighty Fall" do Save Rock and Roll (espero que ouçam).

Sem mais delongas, Save Rock and Roll parece pretensioso num primeiro momento, mas quando continua conservando aquilo que eu, na minha humilde opinião, acho que o rock tem de melhor (o desabafo nem sempre bem elaborado com o instrumental característico da vertente), ele acerta em cheio e salva mesmo.

Eu acho que eu nem preciso citar as participações de Courtney Love (Hole) e Elton John. Vou pecar ainda mais (não sei) ao afirmar que o disco sem eles continuaria a mesma coisa: fantástico. A única exceção, talvez, é a presença da cantora Foxes, novíssima no pedaço por sinal, que faz um trabalho lindo na faixa "Just one Yesterday". A repercussão da participação da menina foi tão grande que em seu próprio vídeo no Youtube, em um single chamado "Home", vários comentários dizem a mesma coisa: thumbs up se você veio aqui porque ela arrasou no álbum do Fall Out Boy!

"You are what you love, not who loves you. In a world full of the word yes, I'm here to scream: Oh, no! Whenever I go, trouble seems to follow, only plugged in to save rock and roll"
(Save Rock and Roll feat. Elton John)

Fora isso, as letras e o baixo de Wentz, a batera do Andy Hurley, os riffs legais e "hardcorianos" de Joe e a voz deliciosa, folk e, porque não, desesperada de Patrick fazem do Save Rock and Roll um álbum energético, poderoso, com todos os direitos que a audácia do título lhe proporcionam.

OBS: Ah! Vale citar também a capa do álbum. Eles selecionaram o trabalho de um fotógrafo chamado Roger Stonehouse de um pequeno monge com um garoto punk que, segundo explicação da própria banda em sua página oficial do Facebook, simboliza a ideia do novo com o antigo, do clássico com o inovador. Mais uma jogada brilhante, pretensiosa e desafiadora. Mas, no meio da salvação do rock'n'roll, só complementa o cenário ousado dos caras de Chicago.

Ah, se todo mundo quisesse salvar o rock...

Foto: Roger Stonehouse / Fall Out Boy UNIVERSAL


Melhores citações:

"We will teach you how to make boys next door out of assholes"

"If heaven's grief brings hell's rain then I'd trade all my tomorrows for just one yesterday (I think I'm bad news, I saved it all for you), I want to teach you a lesson in the worst kind of way..."

"I don't have the right name or the right looks but I have twice the heart"

"My songs know what you did in the dark... so light 'em up! I'm on fire!"

"Hey, youngblood! Doesn't if feel like our time is running out? I'm gonna change you like a remix then I'll raise you like a phoenix. Wearing our vintage misery, no, I think it looked a little better on me..."

"I wanna see your animal side, let it all out!"

Melhores faixas (até agora):
01. The Pheonix
04. Where Did the party Go?
05. Just One Yesterday
08. Death Valley
11. Save Rock and Roll

segunda-feira, 29 de abril de 2013

"Da ditadura à poesia" vai em frente

Um dos grandes desafios na escolha do trabalho de conclusão de curso ao finalizar o ciclo acadêmico - no meu caso exaustivo e complicado - foi o de realizar algum tipo de projeto onde eu pudesse finalmente ser eu mesma, ainda que com os entraves e obstáculos algumas vezes impostos pelo mundo das regrinhas acadêmicas.

Mas eu insisti, cutuquei, repeti e repeti como num disco riscado (apud RITA, Maria!) a ideia de fazer algo onde eu pudesse me expressar e provar para mim mesma e, porquê não, para quem quisesse, que eu poderia fazer algo prático, sobre algo fora do meu alcance de compreensão e que, com o desafio jornalístico, eu me sentisse tão a vontade, como se tivesse nascido naquele meio e vivenciado aquelas mesmas circunstâncias.

A história de Sérgio Luiz, um universitário que foi poeta marginal na época do regime militar, caiu-me no colo como se Deus (ou destino ou enfim) dissesse "vai, toma o desafio que você queria!". Pensei, considerei, abracei e por diversos momentos pensei que talvez fosse mais do que eu poderia narrar.

Mas hoje, já com minha nota no bolso, vi que tantos altos e baixos valeram à pena. Fiz um livro-reportagem e "Da ditadura à poesia: o sergipano Sérgio Luiz e a poesia marginal na luta contra a repressão" tirou 10. E muito merecido. Mas não por mim... quero ser encarada apenas como o instrumento que tentou levar a história de Sérgio - e de todos os outros jovens sergipanos que lutaram através de versos, atos, melodias - com pelo menos um pouco da intensidade que me foi proporcionada pela poesia marginal sergipana dos tempos da ditadura.

E, como eu faço questão de lembrar, perdoem meus maiores pecados literários. Se minha narrativa não for interessante, espero que ao menos admire os dotes poéticos de Sérgio Luiz e de seus companheiros.

Boa leitura!

Download em PDF abaixo:
http://www.4shared.com/office/uvpM3bNO/Da_ditadura__poesia_-_Maluh_Ba.html

*Este trabalho foi realizado para o trabalho de conclusão de curso do semestre 2012.2. Sujeito à atualizações.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um conto, mais uma vez

She sat right around the corner.

The light was dim, so he didn't quite see her for a while.

She just expected him to see her face, her body shape, and finally recognize her in the middle of the dark. She was sure he would recognize her in any situation.

She was tapping her toes to the rhythm of the song in her head. It was joyful noise, something kinda funny to be playing in such misery. But the joyful noise had drums, and bass, and distorted guitars. Had strong lyrics. Full of hate, full of sorrow, full of regret.

She watched him. From far away, but she did.

He never saw her. But, in her dreams, he opened his eyes and he could see her clearly. And his face - in her dreams - became from sadness to happiness just in one single glimpse. His whole life changed by just seeing her.

And in her dreams she made him suffer.

Just a piece of what's she's been through.

Die, mortherfucker, and die again!

Die from the inside because that's the most painful death!

She watched him die. Very slowly. The bright in his eyes starting to fade away. His smile, so recent from the glimpse of her, just going down, fading. His life turned upside down, his mother crying in his grave - although that last image hurt just a little bit inside her head - and his friends... oh, his friends. They were shown of what the great guy could do and they just didn't want to see him anymore. Shut, closed, dead.

You are dead, motherfucker.

But still.. in the room full of darkness and resentment, she could see just a tiny line of light coming from the other side. She would run to in, as fast as she could, and she would lock him inside the dark room, two twists at the key in the door jamb, just to make sure he could never come out.

And the reason she didn't want him to come out was that she really didn't want him to come to the other room where she found herself: empty, blank, with blind-white walls and no furniture. Just emptiness.

Until other young man came and filled the blind-white with suffocating-darkness again.

That was just life.

And she wanted to live it, while she could...

So she grabbed the imaginary gun and run to the door, just seconds before he saw the movement. And when she got there, she shot him right in the face.

Once, twice, three times, countless times...

And watched him die. Just like her dreams. Just like she imagined. It was good. The sense of power. The sense of freedom. And so, she locked the door and went into the other room...

Where his phantom slide through the gap on the bottom of the door and sit in one small chair that suddenly appeared in the middle of the white room - which just went a little bit darker.

It was in that point that she realized that no matter where circumstances life put ahead of her, she would always have to face the past and the misery that came with it. Because that was part of who she was and what she had made of herself.

She sighed, shrugged, and sat one more time right in the corner of the room, waiting for desperation to come again...

quinta-feira, 28 de março de 2013

Na estrada

nem sempre as coisas funcionam como deveriam funcionar. nem tudo sai como é planejado.
eu esperei, esperei e ainda espero mesmo que os resultados estejam aí , na minha cara, e eu não veja - ou resista em ver, isso pouco importa. eu queria era escrever sem vírgulas e construir um texto relevante para mim e para quem quisesse ler.
um texto com ritmo e com uma força kerouac que, em jazz, zah, zum, flui, sem precisar explicar porquê por mais que tenha explicação.
mas chega. chega de falar de textos e frustrações narrativas.
quero mais é falar do amargo sabor de quem espera pacientemente o momento da chegada. o momento em que eu vou deixar de ser eu, e você deixa de ser você. você vira aquele que assiste e eu viro aquilo que distrai. onde meu mundo se conserta e o seu chacoalha. onde o meu é uma noite paulistana, o seu é uma decepção aracajuana.
queria que todos aqueles - aqueles em específico - sentissem na pontinha da língua o amargor do enfadonho.      o sabor de mofo das mesmas coisas miúdas que satisfazem temporariamente e depois se esvaem.
está sendo muito difícil escrever agora por isso vou dando por encerrada minha pequena reflexão de hoje.
só peço que você, sim, você que lê - ou finge que lê - tentasse atribuir o que digo em algo que se encaixe na sua realidade e aí assim quem sabe eu fico mais feliz achando que realmente fiz alguma coisa. é díficil mas não é impossível, talvez.

sábado, 9 de março de 2013

Heart Attack

Você me fez querer escrever isso. Melhor, você praticamente me obrigou a digitar essas palavras...

Eu não sei mais o que fazer por você. Eu não sei mais o que fazer pelo seu tipinho. Não que o seu tipinho me interesse. Dos outros da sua gangue, eu só queria chamar atenção, nada mais. Até consegui o olhar de um dos membros, mas ele parecia uma versão distorcida, acabada, psicótica e desviada da mesma equipe.

Na verdade, você vem sendo o gol há um tempo. O meu gol. Para ser ainda mais sincera - com você e comigo mesma - nem é mais. Não, eu não te quero mais.

O que eu queria falar, ou melhor, perguntar - estou muito confusa nos meus pensamentos porque estou deixando tudo jorrar sem forma nem regras em específico, nem estou reparando nas vírgulas, olhe só; e para piorar o beat nos meus ouvidos embaralham a ordem das coisas - era (é): o que você quer?

Apesar das milhões de tecnologias, não sei do que você gosta. Com quem você anda. Sobre o que fala, com quem fala, como fala.

Minto, uma vez você falou comigo.

Mas fiquei tão envolvida que não deixei que minha memória tirasse fotos com áudio e movimentos durante aquele momento. Fui deixando você falar, falar, falar... e ouvi. E falei também.

Foi muito louco e foi uma experiência interessantíssima.

Nunca tive uma paixão tão rápida e tão impossível antes. Nem sei se impossível é a palavra para ser honesta. Impossível parece... hum... impossível demais. Você nem é assim tão inalcançável. Muito menos tão fantástico quanto possa parecer a esta altura da minha confissão.

Um simples. Mas acho que foi exatamente isso que  me chamou atenção.

O que você quer?

Eu acho que aquelas, bem típicas do gosto masculino: cabelos longos, esguia, sensual, atrativa, inteligente - mas nem tanto; um pouco menos que você, claro - mulher mulher, daquelas de novela.

Eu sou a antítese de quase tudo isso. Só tiramos a parte da novela, em que eu posso me encaixar naquele personagem coadjuvante rebelde que serve para as cotas dos desconcertados que também assistem televisão.

Não, eu não mudaria por você. Nem por você, nem por ninguém.

Mas ô como eu queria que você me enxergasse - e me aceitasse - para que nós fizéssemos aquele fim de longa mamão-com-açúcar. Acho que você não iria se arrepender.

Não sei lavar nem passar. Sou quase tão inútil na cozinha quanto você (eu imagino, se não for pior!). Odeio os lugares paradisíacos que todos procuram e que eu acho que você também. Estou numa fase péssima, entre um passado insistente, um presente desequilibrado e um futuro muito incerto. Não tenho nenhuma qualidade em especial e minhas palavras não fazem parte de nenhum livrinho de auto-ajuda. Aliás, antes fosse, talvez eu ganhasse dinheiro com isso.

No fim das contas, só me sobra uma música em replay, uma noite calorenta, um lugar do qual desejo fugir e um mês que eu quero que se arraste para que eu possa concluir alguns afazeres.

Acho que devo estar aprendendo com isso também. Obrigada por me ensinar, by the way.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Vilã

Vez ou outra eu considero virtude.

Mas me dói muito quando vem. Fico com vontade chorar só de lembrar da sensação de quando ela está por vir...

Tenho passado por algumas loucuras; algumas complicações; alguns questionamentos.

Tudo é comum justamente por causa dela.

Talvez os atropelos destas palavras não sintetize, não transporte, não demonstre nem exemplifique nada do que eu sinto. Ou talvez o que eu sinto seja tão simplório como as lições mornas de moral dos contos infantis.

Assim como uma sensação pós-coito - exaustão, satisfação amarga, vontade de ir embora -, ela também aparece me tornando mais adulta, forçando-me a amadurecer e engolir as lágrimas por uma garganta apertada e dolorida.

Uma das graças de estar vivo é senti-la. Uma das desgraças idem.
Ela me segura quando eu quero voar alto demais - tão alto que minhas pequenas asas não podem alçar - e me detona quando eu já estou no chão, me pisoteando e zombando do mim.

Ela é minha companheira. Ela está do meu lado. Ela me derruba. Ela me engrandece.

Não se sentir segura é como se fosse o ás na manga da vida. Quando você menos espera, ela finge que blefa, joga e você perde.

Clichês à parte, também admiro quem é inseguro. São pessoas mais interessantes e tão humilhadas por ela quanto eu.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Boa noite

Já viraram corriqueiros meus devaneios meio-que-depressivos sempre que faço planos para sair para algum lugar - qualquer - e não os realizo.

Um misto de frustração e cansaço se apoderam de mim. Sim, cansaço, porque não é a primeira vez, e já estou exausta disso, que o que planejo não é bem o que acontece.

Quem olha, até pensa que estou falando de grandes planos pro futuro.

Não, estou falando de míseros canos de escape do dia a dia mesmo.

Uma vez que isto esteja claro - e nem sei porque é importante que isto fique esclarecido -, posso prosseguir meu texto sem mais interrupções (por ora).

Numa dessas noites que me encontro, enquanto a toalha cobre meu corpo e procuro o que vestir, lembro-me perfeitamente das palavras de alguém, que me disse:

- Ah, mas uma vez que eu estiver fora do seu caminho, sua facilidade com as pessoas vai te deixar ocupada por muito tempo! De todas as maneiras! (Fala obviamente alterada).

Não, isso não se concretizou.

Continuo a mesma.

Seletiva demais; estranha demais; querendo demais (ou talvez não, tudo depende do ponto de vista).

As mesmas coisas que me satisfazem, não preenchem mais. E isso quando eu menos espero.

A bipolaridade de supetão é comum e me causa espanto toda vez que aparece.

Quantas vezes estou no meio de uma multidão, vozes altas, ânimos exacerbados, uma alegria que parece não ter fim, e como se um fantasma me atravessasse o corpo - que os fortes entendam -, um assomo de realidade toma conta e eu me vejo como todos ao meu redor: um punhado de imbecis, em busca de uma felicidade momentânea para apagar as desgraças que herdamos de uma geração que foi praticamente forçada a ser como é hoje?

Se hoje o Facebook nos basta, é porque foi a única opção que nos deram.

Eu acredito nesta teoria e acho bem difícil que seja o contrário.

Também não sei onde todo mundo está com a cabeça - ou se sou eu que estou com ela no lugar errado - mas tudo parece tão desordenado quando noites como esta me acontecem...

Lembro-me também que, quando não estava só, costumava até confessar que sentia faltar de ficar sozinha. No meu canto. Com minhas coisas. Bastando para mim mesma.

Mas como pude sentir falta de algo que nunca me aconteceu?

E se aconteceu e eu não sei? Não percebi?

Questões demais para um humor de menos.

Não quero me questionar tanto assim, principalmente quando estou quase que farta das minhas 'auto-justificativas'. Quero, por mais, é que o sono me venha.

E venha depressa, porque o amanhã é uma possibilidade e o hoje já me exauriu.

Prefiro encerrar com o cumprimento que, da mesma forma que começa, pode encerrar um bate-papo sem graça e inútil, livrando alguma das partes de minutos-sem-fim de tédio: boa noite.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Faz um ano que preciso escrever

Diversas situações me impulsionam para escrever.

Alegria, tristeza, decepção, frustração, enfim... Confesso até que a primeira da pequena lista nem me impulsiona tanto assim. Poucas palavras num post de uma rede social já 'mata' minha vontade de compartilhar alegria.

Os sentimentos mais confusos, mais complicados, intensos e cabisbaixos são os que costumam dar aquele choque que conduz as ideias às pontas dos dedos. Eles digitam, fervorosamente, hesitando em alguns argumentos, apertando com força e continuamente uma só tecla para apagar o que talvez seja melhor não ser dito, praticamente deslizando pelo teclado quando aquilo que realmente quero frisar vai saindo em um jorro de palavras que, finalmente, fizeram algum sentido.

Sempre tive dificuldade para escrever. Contos, pequenos poemas, palavras de afeto e até narrativas jornalísticas. Aliás, principalmente elas! Para mim, saem como um parto a fórceps - inclusive, foi uma jornalista que me ensinou essa expressão. Uma crônica então..., vixe!, não sei nem por onde começar!

Não gosto de atribuir culpas como quem quer se distanciar de uma responsabilidade que, sim, em parte é minha. Não é culpa de ninguém que eu não saiba, às vésperas de pegar meu canudo em Jornalismo, começar a redigir uma boa e interessante crônica.

Outro adendo é que acho crônicas um dos estilos mais fantásticos de escrita.

Não saber fazê-las, principalmente quando sinto que era para ser meio que minha obrigação, me mata por dentro!

Talvez tenha vindo daí o título do blog. É que, ainda não sabendo fazer uma, eu vou continuar tentando, mesmo que seja apenas para ter este título com um sentido literal na minha página.

De qualquer forma, desviei do assunto, e oh!, como isso não é comum comigo...

Eu dou voltas. Voltas, voltas e mais voltas para explicar coisas às vezes tão simples de se entender.

Gosto de me justificar e isso é um problema. Talvez seja até por isso que eu falo demais, escrevo demais. Não quero que faltem pontos nos 'i's mesmo em textos tão particulares como este. Preciso explicar, até para mim mesma, tim-tim por tim-tim, para que depois eu possa me justificar o porquê de eu estar me sentindo daquela forma, naquele momento.

Tempos depois, algumas vezes, a fórmula da atenção e dos pingos dos 'i's funciona. Outras, não.

Por exemplo: agora, até acho interessante o texto que estou escrevendo. Daqui a alguns dias, ou até mesmo horas (tá bom! minutos), posso mudar de ideia e querer refazer tudo! Absolutamente tudo! Acharei tudo tão tolo e tão injustificável e sem sentido que me perguntarei 'onde diabos eu estava com a cabeça quando eu escrevi isso'?

Segundos depois deste parágrafo, me perguntei qual a utilidade deste texto.

Acho que para muitos vai ser de pouca ou nenhuma utilidade. Desinteressante, chato, complicado, maluh-com-seus-questionamentosinfantisesemgraça. Pra quê ler?

Justo.

É só mais um desabafo - como tantos outros.

E nada melhor do que, para o primeiro post de 2013, eu me perguntar: 'que diabos está me fazendo escrever estas coisas?'. 'O que me impulsionou por um ano a continuar escrevendo desabafos que não acrescentam para os outros em absolutamente nada? Será necessidade de atenção?'

De fato, não sei. Só sei que faz um ano que preciso escrever. Não é apenas uma vontade e, sim, uma necessidade cada vez mais latente, mesmo que no fim do dia - ou do mês ou do ano - eu não me sinta nenhuma Eliane Brum ao reler meus textos tão mal frequentados e insossos.

Eu preciso escrever. Quando minha alma não aguenta mais; quando eu tenho vergonha; quando eu não consigo mais esconder: eu escrevo. E admiro quem faz o mesmo. Nos tempos em que ninguém mais fala com ninguém, nada melhor do que jogar indiretas virtuais como pedidos de socorro silenciados pelo orgulho e pela timidez.

Acho que, no fim, todos os blogs de confissão deveriam durar para sempre.