terça-feira, 15 de novembro de 2016

Maria

Não dá para ficar calada.

Não dá.

Mesmo que esse desabafo venha em forma de texto, é melhor do que engolir e tudo se transformar num câncer de fígado daqui a alguns anos.

Para que não digam que é exagero: a matriarca da minha família segurou até onde pôde. Segurou mesmo. E olha que ela chorava, brigava, fazia furdunço. No fim, um câncer que deixou a disposição de pintar os cabelos de vermelho para trás. Hoje os fios são ralinhos e brancos. Muito vulnerável pra ela. Muito.

Pensei comigo mesma: “alguém pinta o cabelo de voinha, pelo amor de Deus! Essa não é ela!”. Mas, sinceramente, eu não sei se essa não é ela mesmo. Vai ver ela cansou de tentar e a dor é a má conselheira do desleixo. Eu também sou uma das pessoas mais desnaturadas que existem quando se trata de família. Não viajo para enterros, batizados, aniversários ou casamentos. Sou muito fechada além do meu pequeno núcleo. Desconhecer minha avó a esse ponto – quando ela não pode vir mais até mim – é completamente natural. Só espero que eu tome coragem logo porque, aliás, ela é o meu maior símbolo de bravura e persistência.

Por enquanto, já fico com a herança de seu nome: Maria. O clichê mais indômito que existe, na minha opinião. Tenho maior orgulho e Oxalá eu herde apenas a coragem. Segurar demais a barra dá câncer. E daqueles tão avassaladores que você simplesmente não lembra de pintar o cabelo.

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