sexta-feira, 27 de setembro de 2013

'Tá foda!

Eu não lembro quando tudo começou, quando eu comecei a ficar ranzinza com essas coisas e parei para questionar e franzir o cenho sobre elas.

Eu sei que não é de agora e faz muito tempo.

Entregar-me ao belo é como uma droga. Me fascino pelo que tentam me vender porque ornamentam muito bem e sou quase que impulsionada a acreditar em tudo que a mídia tenta me enfiar e goela a baixo.

Mas porquê não deveria?

Soa muito bem, é agradável aos olhos e quase sempre é gostoso ao paladar.

Me vejo escrava de tudo isso e com poucas - e milagrosas - possibilidades de volta.

Recentemente me vi envolta numa enxurrada de ditaduras absurdas e numa sociedade tão "livre" nunca vi tantas normas.

Ouvir da boca de um jovem, bonito e simpático regras e mais regras que ele dita, bem ditado, com um grande sorriso no rosto é frustrante.

O Fuhrer atual está circulando entre as pessoas mais bacanas que conheço até as mais antipáticas nas quais não faço questão de prosseguir quaisquer diálogos.

Numa sequência quase que ininterrupta, o rapaz conseguiu ditar- volto a repetir, com orgulho - uma longa lista e "poder" e "não poder" de alimentos que nos são oferecidos hoje pela mídia, pelo mercado, pelo escambáu.

E friso novamente, com um sorriso no rosto.

Lembro que vi recentemente um filme, daqueles pastelões, onde dois policiais, supostamente fracassados, são mandandos numa missão à paisana num colégio de ensino médio norte-americano como uma espécie de punição por uma trapalhada que fizeram nas ruas. O objetivo: capturar um traficante de drogas que estava vendendo à torto e direito dentro da instituição.

Um deles era uma "tragédia social" na época da escola e o outro um bacanão boa-pinta. Obviamente, quando são instruídos da missão, o bonitão toma as rédeas e decide que, por sua experiência bem sucedida em seu passado adolescente, deve conduzir a dupla no que, mal sabem, tornaria-se um confuso e surpreso desafio.

Os jovens populares, os manda-chuvas da parada na escola onde os dois oficiais são enviados não são mais  do mesmo perfil de rebeldes e populares que o "Boa Pinta" costumava conhecer. Os novos "rebeldes" são aqueles que se importam com o meio ambiente e vão de bicicleta pra escola e não de carros tunados e saltitantes. Vestem-se com decoro e usam as duas alças das mochilas nos dois ombros para não fazer mal a coluna. Comem bem e se importam com a saúde de seus corpos ao invés de se entupirem de hambúrgueres e coca-cola (mesmo que não tenha nenhum ratinho dentro, haha).

Não queria me prolongar demais no resumo da história do filme mas é porque o próprio fala por si só.

'Tá foda.

Está cada vez mais difícil entender, na minha cabeça, o que É ser jovem.

A ditadura da beleza, da magreza e todos os 'ezas' possíveis trouxeram uma enxurrada de leis e regras que são cagadas - desculpem - por meninos e meninas, jovens que, sim, sentem orgulho de saberem de cor e salteado todas as calorias de um x-burguer.

Na mais clichê das expressões, eu digo: fala sério!

Eu não estou entendendo mais nada.

Mais um exemplinho:

Na minha brilhante - sem ironia - ideia de fazer Produção Musical com foco em Música Eletrônica, um dos meus geniais - novamente, sem ironia nenhuma - professores nos deu uma excelente aula sobre os movimentos punk e do hip hop.

Na aula, nosso professor abordou brevemente a história de ambos os movimentos, assim como seus conceitos, ideologias e contextos. Essa disciplina tem como propósito nos instigar a investigação de estilos musicais diferentes, assim como nos dar base para ampliar nossos repertórios musicais como futuros produtores que vão trabalhar diretamente com isso: música.

E o quão lindo foi ver trechos do documentário que conta a história da banda punk inglesa, Sex Pistols. The Filth and The Fury ("O lixo e a fúria") relata o movimento que mudou o pensamento jovem de tantas maneiras e que tem seus galhos enraizados nas vertentes musicais até hoje.

O doc emociona quando mostra jovens que não sabem tocar, cantar ou sequer são visualmente atraentes se vêem frente a frente com a idelogia do do-it-yourself (faça você mesmo) e decidem que, porra, já era hora de alguém falar alguma coisa!

De famílias sub-salariadas e numa crise pós-guerra, com direito a greve de "lixeiros" de Londres e uma cidade hospedeira de lixo enquanto o glam não saía das ruas dando um contraste incrível e sufocador, os garotos do que viria a ser o Sex Pistols ensaiavam brigando e faziam performances que remetiam ao "Corcunda de Notre Dame" - grotesco, mas que chama a atenção de alguma forma.

E para compreender melhor estas minhas analogias que parecem sem sentido, vou anexar o vídeo com este doc muito bem feito por Julien Temple abaixo quase como um glossário para as minhas divagações sobre a minha juventude.

Voltando aos Pistols, o que é fantástico é ver o que não aparentemente ter vez e voz ganhar ambos em meio a guitarras distorcidas e gritos de revolta.

Na cidade onde o caos era comum à classe C, as manifestações faziam sentido. E a música seguia tudo isso.

Foi porque fez sentido que os Pistols fizeram sucesso mesmo não correspondendo à nenhum padrão da época.

Foi porque fez sentido o que diziam que suas letras se tornaram históricas.
Foi porque fez sentido que eles se eternizaram e são idolatrados até hoje.
Foi porque fez sentido que eles foram e ainda são - para alguns - a cara da juventude.

E hoje?

Nada faz sentido pra mim. Tenho algumas boas referências de blogs, pessoas e instituições que lutam para tentar calar de alguma forma o Fuhrer da beleza, da magreza, da mulher como objeto, do funk ostentação, do forró e sertanejo que assassinam e dilaceram nossa cultura original, da injustiça social, do racismo em demasia, do dinheiro que supera a arte e da falsa alegria das redes sociais.

Vejo essas bandeiras e fico emocionada tanto quanto fiquei com o documentário que vi dos Pistols.

Ali estão nossos punks. A revolta hoje é contra a própria juventude: chata, misógina, caga-regras, rotuladora, superficial e babaca que aparece na TV e na internet PENSANDO que representa alguém.

Como já vi a autora do blog "Escreva, Lola, Escreva" comentar: ainda há esperança. E putz, se ela, depois de ler tantos absurdos, afirma que ainda tem esperança, talvez ainda tenha e eu embarco com ela nessa.

PS: Quanto ao diálogo com o jovem da história acima, quero esclarecer: converso e entro, até demais, nestas conversas porque também acredito num equilíbrio de interesses - entre o certo e o errado. Só senti esta necessidade de desabafar sobre isso porque... ah, porque pra mim, chega!

Como prometi, "The Filth and the Fury". E se você, como eu, também tá entrando na onda dos novos Fuhrers, inspire-se!

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