A sensação de engasgo é uma das piores que já experimentei.
Mãos tremem, coração dispara, corpo sua e até os olhos lacrimejam.
É como se o organismo se preparasse para uma guerra por sobrevivência e lutasse com todas as armas possíveis para que o ar entre pelas vias respiratórias e dê continuidade ao fato de se estar vivo, com o coração batendo, cérebro claro e operante.
Depois do ataque - e supondo que a sobrevivência se sucedeu -, vem a ressaca da batalha. Respira-se fundo e mais uma vez, para garantir que está tudo ok nos campos dos órgãos. Tateia-se em busca de água para estabilizar e respiração cansada. Olhos ardem, cabeça lateja e uma sensação de intensa fadiga física se apodera.
Para complementar, os momentos de aflição, apesar de temporários, podem causar uma fobia eterna ou bem duradoura de executar o ato causador do engasgo.
É...
Com a saudade é mais ou menos assim. Pelo menos quando é uma perda recente e, ainda mais e especialmente, se se tratar da primeira pessoa do singular.
Sufoca, esgana e quase mata.
A falta é tanta que as mãos tremem, o coração dispara, o corpo sua e até os olhos lacrimejam.
A ausência brusca causa o susto. O susto me desespera. O ar me falta e o juízo - com a cabeça cheia de sangue - também parece que se esvai.
Agora, o pior de tudo isso, é quando estas conseqüências perduram e causam um efeito colateral permanente... nos quais os mesmos sintomas que eu senti há tempos atrás, voltam e voltam com uma força gladiadora.
No coliseu dos meus sentimentos, o leão é a personificação da saudade e o gladiador é a minha pobre sanidade tentando sobreviver ao caos e ao que lhe parece os últimos minutos de sua vida. (Lavatory's philosophy)
O problema é que o leão é tão formidável que ele acaba tomando excursões pela savana e vira e mexe ele está de volta em mim... na minha cama... no meu sono.
Quando as vontades e os desejos são muito fortes ou estão bem escondidos a ponto de que eu não coloque para fora, meu subconsciente faz o trabalho de externizar tudo, eu queira ou não.
Acordei de um sonho sufocante, no qual o leão mostrou as garrinhas novamente, e a saudade cravou fundo as unhas no meu peito.
Ergui-me arfante, zonza, desnorteada, triste, abalada.
A vontade de superação é grande. Mas a saudade é um gigante. (Ou seria leão?)
Como se a vida não achasse o suficiente me pregar peças e me colocar neste bendito coliseu de tempos em tempos, a saudade ainda inventa uma situação, com novas circunstâncias, nas quais eu nunca vivi, e coloca o personagem principal causador da saudade no foco dos acontecimentos. Escreve um bom roteiro com estes elementos e ainda produz um filme independente que me é exibido em sonho, vívido como em uma tela de cinema.
Acordo daquele jeito, engasgada por lágrimas e por acontecimentos que nem sequer existiram, desfrutando das "alegrias" de ser humana.
"A saudade é um parto; é arrumar o quarto do filho que já morreu." Chico, é claro.
ResponderExcluirDefinir saudade é provavelmente mais espinhoso que definir amor e eu sinceramente acredito que nunca se chegaráa algo efetivamente preciso. No mais, enquanto isso, contentemo-nos com exercícios interessantes como esse seu - que se não definidor ao menos reflexivo.
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ResponderExcluirTenha coragem de sentir e se permita sentir...
ResponderExcluirEra uma vez…
Como nas histórias de Troncoso
Era uma vez ...
Uma moça que não assumiu...
Não assumiu a sua vida
Não assumiu a renovação dos seus valores
Não assumiu a explosão do seu amor
Não assumiu os seus anseios
Não assumiu os carinhos que o seu corpo clamava
Não assumiu o apelo de amor do bem amado
Não assumiu o corpo inteiro de bem querer
Não assumiu seu próprio coração.
Deixou quedar o sonho mutilado
E, no final, mas não como no conto de fada,
Morreu em vida,
Sem ter nascido.